quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

CASOS DE POLTERGEIST


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           Ansiosa para começar uma nova vida depois da morte do marido, a senhora Frances Freeborn comprou uma casa em Bakersfield, na Califórnia, em novembro de 1981. Era uma casa agradável, de três quartos, que ficara vazia por cinco anos após a morte da proprietária anterior, a senhora Meg Lyons. Tudo nela estava exatamente como havia sido deixado por Meg Lyons, da mobília dos quartos às roupas cuidadosamente dobradas nas gavetas da cômoda. 

          A senhora Freeborn estava contente com a aquisição, mas quando começou a esvaziar a casa para ocupá-la com seus próprios pertences, coisas estranhas passaram a se manifestar. No mesmo dia em que que mudou, ouviu um ruído alto de pisoteio vinda d cozinha; como a fornalha estava acesa, ela atribuiu os ruídos à ação do calor sobre os encanamentos sem uso. Depois, portas e armários que ela fechava antes de ir para a cama apareciam inexplicavelmente abertos pela manhã. Ela contratou um chaveiro para ver se os trincos das portas estavam funcionando direito  - estavam - e um marceneiro para ver se o armário estava nivelado - estava. Não demorou para que algumas das lâmpadas da casa começassem a se acender quando ela não estava em casa. Fez trocar três interruptores, o que pareceu eliminar o problema, mas logo outras lâmpadas passaram a agir do mesmo modo. Trocou os interruptores das outras lâmpads também, mas ela já estava bem aborrecida: o homem que lhe vendera a casa - Luke Cowley, genro da falecida Meg Lyons - garantira que a fiação estava em perfeito estado. 

           Cerca de um mês depois da mudança, ela começou a pendurar os quadros que trouxera de sua antiga casa.  Colocou um de sua especial predileção - um tríptico de três mulheres de antes da Guerra Civil, emoldurado em um único passe-partout, com três recortes ovais - e quando acordou na manhã seguinte encontrou- cuidadosamente encostado na parede, debaixo do lugar onde o pendurara. Naturalmente, ela presumiu que o quadro havia simplesmente escapado do gancho, e considerou-se com sorte pelo fato de o vidro não ter se quebrado. Pendurou novamente a pintura, desta vez com mais firmeza. 

          Na manhã seguinte, porém, a pintura tripla estava de novo encostada na parede, sob o gancho vazio. A senhora Freeborn tentou pendurar o quadro em cinco outros lugares diferentes, mas toda as vezes descobriu na manhã seguinte que ele descera - ou fora retirado - durante a noite, misteriosamente.Mais desconcentrada do que assustada, ela desistiu da quinta tentativa. 

           Dez dias depois, a senhor Freeborn foi tomada por um curioso impulso. Pegando mais uma vez o quadro,  levou-o para um quarto vazio e pregou-o em um lugar novo. "Foi como se uma presença me dirigisse", lembrou-se depois. "Eu mesma nunca o teria pendurado lá. Estava baixo demais, perto demais do interruptor da luz, mas senti-me dirigida a pendurá-lo exatamente lá. Era como falar em público. Você sabe, a gente senta a plateia discordando da gente, ou entrando no discurso. Foi a mesma coisa." Desta vez, o quadro se manteve firmemente no lugar. 

         Pouco tempo depois, a senhora Freeborn recebeu uma visita de Luke Cowley . Dando uma volta pela casa rearranjada, o genro de Meg Cowley se deteve na hora diante do quadro problemático. A senhora Freeborn percebeu seu espanto, mas Cowley nada explicou na ocasião. Mais tarde ele contou que a sogra dele tivera um quadro muito semelhante, com três recortes ovais, e que o mantinha exatamente no mesmo lugar. Como a senhora Lyons mal chegava a 1,60 metro de altura, para ela o quadro ficava à altura do olhar. Segundo Cowley, ela fora uma mulher muito dominadora e teimosa, muito orgulhosa de sua casa com sua decoração. Com efeito, os amigos dela chegavam a comentar: "Esta casa é a Meg!" Frances Freeborn nunca dera muito crédito ao que ela chamava de "bobagens psíquicas", mas agora ela foi forçada a imaginar: seria a flecida Meg Lyons de algum modo responsável pela intena sensação de "desagradabilidade" que ela experimentava a cada vez que mudava alguma coisa na casa?

        Como tinha problemas de coluna, Frances Freeborn contratava trabalhadores para elevar  os parapeitos e os acessórios da casa que anteriormente haviam sido feitos de acordo com a baixa estatura da proprietária anterior. Quando a reforma começou a avançar, a senhora Freeborn sentiu uma hostilidade na atmosfera. "Era como se aquilo - eu chamava a estranha sensação de 'aquilo' - desaprovasse o que eu estava fazendo", disse ela. Apesar disso, ela não imaginava correr algum perigo. Porém, em janeiro de 1982, quando ela se preparava para redecorar o quarto principal da casa, as coisas atingiram um súbto e aterrador clímax. 

        Durante todo o dia, ao comprar tinta e papel de parede para a reforma, ela teve a desagradável sensação de que alguém a estava vigiando, e à noite seu sono foi perturbado por por misterisos golpes e estrondo em partes distantes da casa. Levantando-se da cama por volta das duas damanhã, ela foi até o banheiro adjacente a seu quarto. Quando estava lavando as mãos na pia, a jenela do banheiro se abriuem um movimento etrepitoso. Assustada, a senhora Freeborn  achou que um ladrão estava tentando entrar na casa. Contudo, ao olhar para a escuridão lá fora não viu nada, a não ser que a tela que tornava a janela inacessível pelo lado de fora continuava intacta. Fechando a janela, ela voltou para o quarto, onde, assustada e incapaz de dormir, ficou sentaa na beira da cama. A aventura apenas começara.

          Repentina e simultaneamente, a janela do banheiro abriu-se de novo e a do quarto fechou-se com estrondo. Enquanto o cachorro dela começava a latir freneticamente, a senhora Freeborn ficou em pé de um salto, olhando as portas de dobrar do armário que se abriam como se fosse por vontade própria, ao mesmo tempo que as portas do outro armário se fechavam ruidosamente, sem qualquer ajuda visível. 

           Uma única ideia tomou conta dela em meio à cena caótica: sair da casa o mais rápido possível. Apanhando o cachorro no colo, saiu correndo do quarto. A porta na passagem para o corredor, que a assustada mulher fechara antes de ir para a cama, estava agora aberta, sem que ela tivesse tocado nela. Ao atravessá-la, apressada, a senhora Freeborn sentiu um estranho impacto. "Havia uma zona de pressão" contou, "uma massa lá fora no corredor, como se algo tenebroso e feio estivesse concentrado lá." Acendeu as luzes, mas não viu nada. Os latidos do cachorro ficaram ainda mais frenéticos. 

      Ali no corredor, dois meses de acontecimentos estranhos estava chegando ao auge. "Percebi que tinha que sair da casa, ou morreria", afirmou mais tarde a senhora Freeborn. A aterrorizada mulher sentiu três forças diferentes - uma de cada lado e outra bloqueando-lhe o caminho - que não queriam que ela passasse. Gritando, "Saiam do meu caminho!", ela seguiu em frente. Sentiu que as duas presenças ao lado ficaram "surpresas" quando ela conseguiu passar, e a que estava diante dela recuou em aparente choque. Parando apenas para agarrar um casaco e a bolsa, ela saiu pela porta de trás e fugiu de carro, ainda vestida apenas de camisola. De manhã, ela estava pensando em vender a casa.

       Os eventos descritos acima foram contados em um relatório detalhado por L. Stafford Betty, membro do Departamento de Filosofia e Estudos Religiosos da Califórnia State College, em Bakersfield. (Como ocorrer nesses estudos, Betty trocou por pseudônimos os nomes reais, para proteger as pessoas envolvidas.)  Após uma considerável investigação, que se estendeu por mais de um ano, Betty convenceu-se de que não havia qualquer fraude nos relatos de Frances Freeborn e Luke Cowley. Concluiu que alguns dos fenômenos experimentados podias ter sido ocasionados por causas físicas, mas que muitas das ocorrências não poderiam ser explicadas com tanta facilidade. "A única explicação que cobre todos os fenômenos", escreveu no Journal Of the American Society for Psichical Research em 1984, "só pode ser paranormal."

        O caso de Bakersfield parece encaixar-se na estranha categoria de atividade paranormal conhecida como fenômeno de Poltergeist. O próprio termo "Poltergeist" - das palavras alemãs poltern, que significa barulhento ou traquinas, e Geist, que quer dizer espírito - sugere os fantasmas bagunceiros do folclore e das lendas populares. Os fenômenos posto sob a etiqueta de Poltergeist formam uma verdadeira colcha de retalhos", observou Alan Gauld, um pesquisador de paranormalidade e professor universitário de psicologia. "As duas classes principais mais comuns são talvez a dos ruídos percussivos -golpes secos, pancadinhas, baques, golpes violentos, estalos e estouros -e a dos movimentos de objetos- coisas que são inclinadas, deslocadas, movidas, levantadas ou atiradas."

        Os Poltergeist são então, quase literalmente, coisas que se chocam - mas geralmente não à noite. Os fenômenos de Poltergeist tendem a ser diurnos, segundo o parapsicólogo William G. Roll, enquanto as assombrações tradicionais são com frequência noturnas. E a atividade dos Poltergeist costuma estar centrada em pessoa específica, e não em um lugar, tal como acontece com as assombrações. Mas mesmo essas características gerais têm suas exceções. Tudo que se pode dizer com certeza é que os distúrbios de Poltergeist começam de repente e sem aviso, duram alguns dias ou alguns anos e depois, tipicamente, cessam tão abrupta e misteriosamente quanto começam. 

        Existe um nítido desacordo sobre o que é, de fato, um Poltergeist e sobre as forças que podem estar por trás de sua atividade. Até o próprio termo Poltergeit foi causa de aceso debate. William G. Roll acha que o nome é mal aplicado, "posto que implica em agente separado de qualquer organismo vivo".  Na opinião de Roll, os Poltergeist  nada tem de fantasmas barulhentos, mas são na verdade poderosos fenômenos "centrados na pessoa", desencadeados na mente ou na psique de agentes vivos, humanos. Em outras palavras, o que parece obra de um espírito inuieto pode na verdade ser atribuído àquela energia  psicocinética descontrolada de uma pessoa viva - especificamente, àquiloque Roll e seu colega J. Gaither Pratt chamaram de "psicocinese recorrente espontânea", ou RSPK (abreviatura da denominação em inglês: recurrent spontaneous psychokinesis ). A maioria dos casos relatados de Poltergeist pode ser explicada por fraude, alucinação ou causas puramente físicas.  Entre os parapsicólogos modernos, a RSPK é de longe a teoria de maior aceitação para as atividades de supostos Poltergeist que desafiam todas as explicações mais simples. 

        Alguns pesquisadores, contudo, dizem que a psicocinese não serve para explicar todos s casos enigmáticos. No caso Bakersfield, por exemplo, o único agente vivo possível parecia ser a própria senhora Freeborn. O pesquisador Batty sustenta que há poucas razões  para supor que Frances Freeborn pudesse causar, conscientemente ou não, tamanha confusão para si mesma. E acredita que, na verdade, o fato de ela ter conseguido mais tarde limpar a casa do Poltergeist ofensivo com a ajuda de sensitivos espirituais dá crédito à opinião contrária, a do espírito "desencarnado". Tal teoria - desprezado pela maioria dos pesquisadores mais conservadores - sugere que os Poltergeist são de fato mais aparentados com as assombrações tradicionais e têm uma inteligência independente, separada de qualquer ser vivo. 

       Coletar dados para provar ou refutar essas teorias é muito difícil, posto que as manifestações de Poltergeist são extremamente raras, quando comparadas a outros fenômenos de assombração. Roll assinala que, em um ano típico, apenas alguns poucos casos chegam ao conhecimento dos pesquisadores sérios. Além disso, é raro que os incidentes possam ser testemunhados pessoalmente por um pesquisador de paranormalidade. Em geral, os investigadores tem que utilizar informações de segunda mão, fornecidas por observadores presentes por acaso durante os eventos. No caso Bakersfield, por exemplo, os críticos da hipótese de Betty em favor de um agente desencarnado  salientam que o argumento dele se baseia, em grande parte, em sua própria fé na veracidade de uma única testemunha,Frances  Freeborn - a qual, dizem os que duvidam, pode ter sofrido alucinações, mesmo que acreditasse estar dizendo a verdade. 

       É interessante notar que os investigadores dos primeiros casos registrados de atividades de Poltergeist  deram um jeito para experimentar os fenômenos diretamente. Isso correu por volta de 1661 em Tidworth, uma aldeia inglesa da planície de Salisbury, a cerca de 160 quilômetros ao sul de Londres. Na época, as pessoas de Tidworth não usaram o tempo Poltergeist, é claro. Falaram de demônios, bruxas, espíritos, fantasmas - alguns dos muitos nomes pelos quais os Poltergeist foram chamados através dos séculos. Os nomes variam, mas os problemas que eles causam permaneceram surpreendentemente consistentes, e o caso Tidworth é reconhecido como possuidor das características clássicas da atividade Poltergeist. Nas palavras de Harry Price, o famoso pesquisador de paranormalidade, esse caso "pôs os Poltergeist no mapa". 

        O estranho caso começou quando um tamborileiro itinerante chamado William Drury foi levado à presença do juiz de paz de Tidworth, um estudioso formado em Oxford chamado John Mompesson. Drury, que afirmava ter sido soldado das tropas de Oliver Crmwell, fora detido sob a acusação de exigir dinheiro das autoridades locais com falsos pretextos. Após ouvir os testemunhos, Mompesson ordenou que o tamborileiro  ficasse detido até ser julgado. Por estranho que pareça, Drurypaecia estar mais preocupado com seu instrumento, confiscado por Mompessom, do que com a perda da liberdade. Mompesson ignorou os apelos de Drury e ordenou que o instrumento fosse levado para sua casa. Drury foi solto logo, após um curto período de detenção. 

        No mês seguinte, Mompesson saiu de Tidworth para uma breve viagem a Londres. Quando voltou,  encontrou a esposa e os filhos à beira do terror. Durante várias noites seguidas, o sono deles fora interrompido por ruídos altos e persistentes que não tinham qualquer fonte aparente.Mãos invisíveis batiam nas portas e davam pancadas nas janelas. Os moradores não haviam tido um único momento de paz, contaram ao espantado Mompesson. 

        O juiz de pas era um homem calmo e metódico, não muito dado a voos de fantasia. Achou que o barulho podia ter sido causado por ladrões tentando entrar na casa. Assim, quando os ruídos voltaram três noites depois, Mompesson pegou um par de pistolas e escancarou a porta. Nada havia lá fora, a não ser a escuridão e um estranho som cavo.

          Um pesado pisoteio ou ruídos de golpes surdos de fonte indeterminada incomodaram a família durante todo o resto daquela noite e por várias noites depois, perturbando de tal modo a senhora Mompesson que ela acabou adoecendo. Em pouco tempo, as manifestações noturnas ficaram ainda mais incômodas. As  cadeiras dançavam nos cômodos da casa, objetos soltos voavam por sobre as cabeças e penicos eram derramados sobre as camas. Certa manhã, o ar ficou pesado com o odor de enxofre. As coisas continuaram assim por vários meses.  Às vezes, os fenômenos paravam por dias ou semanas, apenas para recomeçar com redobrado vigor. 

           As notícias dos estranhos acontecimentos acabaram chegando ao conhecimento do rei Carlos II, que despachou alguns de seus conselheiros para que tivessem um relatório sobre os fenômenos misteriosos. O grupo aumentou depois coma chegada do famoso arquiteto Sir Christopher Wren. Outro notável entre os investigadores era o capelão do rei, Joseph Glanvill, membro da Royal Society. Embora nada na formação ou nas crenças de Glanvil pudesse tê-lo preparado para as incríveis ocorrências em Tidworth, ele contribuiu para os estudos do mistério com seu olhar e sua viva inteligência, conduzindo o que foi na verdade uma das primeiras investigações de paranormalidade. 

         Glanvill não precisou esperar muito tempo pelo primeiro encontro como Poltergeist de Tidworth. Na noite em que ele chegou, uma criada desceu para contar-lhe que os incômodos ruídos que todas as noites começavam na hora de pôr as crianças na cama já estavam acontecendo no quarto das duas filhas mais jovens de Mompesson.  Um barulho nítido de raspagem podia ser ouvido, vindo de trás da cama delas. Glanvill correu até o quarto eenfiou a mão atrás da cama, mas nada sentiu. "Tinham medito que 'aquilo' imitava ruídos" escreveu o capelão depois, "e fiz uma tentativa, arranhando várias vezes o lençol." A cada vez, o ruído provocado por Glanvill era respondido por igual número de arranhaduras do visitante invisível. "As duas modestas menininhas", anotou ele "conscienciosamente mantinham ambas as mãos  à vista naquele momento. Procurei embaixo e atrás da cama e fiz todas as buscas que me pareceram possíveis, para ver se descobria algum truque, artimanha ou causa comum. "Nada conseguiu encontrar, terreno ou não, que pudesse ter produzido os sons. 

           A estadia de Glanvill em Tidworth foi animada por uma manifestação incrível após outra, Objetos voadores tornaram-se rotineiros, bem como o persistente tamborileiro  de batidas "espirituais" que acompanhavam todos os distúrbios. Certa noite, pancadas urgentes na porta do quarto acordaram Glanvill de um sono profundo. Ele perguntou várias vezes quem estava batendo, sem obter resposta. Frustrado, ele gritou. "Em nome de Deus! Quem está aí, e que deseja? Os golpes pararam e Glanvill esperou por um momento, em silêncio. Então, uma voz desconhecida  soou do outro lado da porta. "Nada com o senhor", disse a voz. No dia seguinte, ninguém na casa admitiu ter  estado acordado. 

          Esses acontecimento acabaram cobrando seu preço sobre os nervos da família. Certo dia, quando Mompesson viu um pedaço de lenha se mexer na lareira, não aguentou mais a tensão. Disparou sua pistola sobre a lareira, e adiantou-se para confrontas o demônio que estava antagonizando sua família. Parou estarrecido quando chegou `lareira. Sobre a lenha havia várias todas de sangue. 

             Não demorou para que as suspeitas do caso recaíssem sobre William Drury, o vagabundo cujo tambor fora confiscado por Mompesson. Imprudente, o tamborileiro se vangloriara de lançar uma maldição sobre o juiz de Tidworth. "Lancei uma praga sobre o juiz", afirmou Drury, "e ele nunca ficará em paz, até dar-me satisfações por ter tirado meu tambor." William Drury nunca obteve as satisfações que queria. Em vez disso, foi julgado por bruxaria e enviado para um confinamento longínquo. Foi só então que as estranhas manifestações na casa dos Mompesson acabaram. 

            Haveria de fato um Poltergeist em ação em Tidworth, desatado pela malevolência do tamborileiro? É impossível afirmar com certeza. Por sua parte, Joseph Glanvill voltou de lá convencido de que alguma força não natural causara os distúrbio. "Confesso que as passagens descritas não são tão terríveis, trágicas e espantosas", escreveu em seu sumário, "mas não são por isso menos verdadeiras. E são estranhas o bastantes para provar que resultam de algum agente extraordinário invisível, e assim demonstrar que há espíritos que às vezes interferem sensivelmente em nossos assuntos."

        Ao  contrário dos atuais investigadores da paranormalidade, Glanvill tinha pouca coisa para comparar com as experiências que conhecia, poucos paralelos a traçar com observações ou terias de outros. Com um embasamento maior, ele poderia ter concentrado sua atenção sobre as duas filhas de Mompesson, as "duas meninas modestas" que parecem ter estado no centro de tanta manifestações. Os pesquisadores modernos desconfiam que as meninas podem ter tido mais a ver com os eventos do que o tamborileiro vagabundo. Em caso após caso, a atividade de Poltergeist parece envolver adolescentes. Em alguns exemplos - talvez a maioria - os jovens procuram pregar uma peça nos outros. No entanto, os pesquisadores dizem que em outros casos o envolvimento de adolescentes pode sugerir que eles sejam fonte de poderosas energias psíquicas sobre as quais pouco se sabe, ou mesmo que ele sirvam como catalisadores, condutos humanos pelos quais são catalisadas  as forças do mundo dos espírito.   

          Se Glanvill deixou de chegar a uma conclusão dessas por conta própria, não foi por falta de esforço. Nos anos que se seguiram ao episódio de Tridworth ele escreveu extensamente sobre o assunto, e correspondeu-se com pessoas que haviam testemunhado ou ouvido falar de eventos semelhantes. Um indivíduo com o qual ele talvez tenha trocado cartas é o clérigo americano Increase Mather.

          A tradição recorda de Increase Mather  e de seu filho, o líder puritano Cotton Mather, como as forças impulsionadoras um tanto fanáticas por trás da caça às bruxas de 1692 em Salem, no estado de Massachusetts. Na verdade, os dois homens parecem ter sido bastante razoáveis e de mente aberta no tocante ao sobrenatural. Durante a histérica caça às bruxas, Cotton Mather aconselhou uma abordagem cautelosa, exortando os juízes a tomarem cuidado nos julgamentos comas "provas espectrais" e afirmando que a oração e o jejum poderiam ser mais eficazes do que a ação legal punitiva na perseguição às bruxas. 

           As opiniões dos Mather podem ter sido moldadas por um incidente ocorrido dez anos antes da caça às bruxas, na casa de George Walton, em New Hampshire. Diz-se que a coisa começou na noite de domingo, 11 de junho de 1682. Após recolherem-se, ao anoitecer, Walton e a família foram subitamente acordados pelo barulho de grandes pedras bombardeando a casa em todas as direções. Uma pesquisa fora da casa não revelou qualquer humano para a chuva de pedras, que manteve a mesma intensidade. 

         As pedras continuaram sendo atiradas esporadicamente por vários dias, chamando a atenção dos vizinhos, dos amigos e do secretário da província de New Hampshire, Richard Chamberlain. Durante suas visitas   à casa dos Walton, o próprio Chamberlais foi atingido diversas vezes pelos projéteis misteriosos. Em seu relatório, ele foi forçado a concluir que o bombardeio "deve necessariamente ser feito por meios extraordinários e sobrenaturais". 

             O caso deixou Increase Mather fortemente impressionado, e no ano seguinte ele publicou seu próprio relato. Tal como Joseph Glanvill, Mather aproveitou a ampla publicidade em torno do caso para persuadir os céticos acerca da realidade do sobrenatural e para afirmar sua própria crença na "existência real de aparições, espíritos e bruxas". 

           Mather não podia saber que atirar pedras - ou praticar a litobolia, tal como isso veio a ser chamado - pode ser um dos truques prediletos dos Poltergeist, nem teria reconhecido a palavra Poltergeist. Mas os relatos ele e de Glanvill estiveram entre os primeiros passos vacilantes no sentido de identificar e entender o fenômeno. A obra deles começaria a dar frutoscom a assombração de Epworth, na Inglaterra, alguns anos depois.

         O caso Epworth é ainda mais notável por ter envolvido a famíliade John Wesley, o fundador do metodismo. Em 1717, o jovem John, então com 14 anos, estava em um internato com seus irmãos mais velhos; os rapazes começaram a receber relatos de acontecimentos peculiares na paróquia de Epworth, uma pequena cidade de Lincolnshire a cerca de 80 quilômetros do mar do Norte, onde seu pai, o reverendo Samuel Wesley, morava com a mãe e as irmãs deles. 

         Tal como no caso do tamborileiro de Tidworth, cerca de cinquenta anos antes, conta-se que os problemas em Epworth começaram com batidas inexplicáveis na porta, assustando a família inteira. A esposa do clérigo ficou especialmente perturbada, imaginando que o barulho pudesse pressagiara morte de um de seus filhos. Os Wesley disseram que, além das batidas na porta, ouviram passos fantasmagóricos, ruídos retumbantes. inexplicáveis no porão e no sótão, e um grande estardalhaço de vidros e coisas caindo, como se alguém estivesse despejando um balde de moedas no chão. 

          Ao saber dos acontecimentos pelas cartas da família, Samuel, o filho mais velho, disparou imediatamente um série de perguntas destinadas a revelar a verdade das coisas, perguntas que teriam satisfeito o mais cético dos pesquisadores de paranormalidade. "Houve alguma nva empregada, ou algum trabalhador na casa que pudesse estar pregando peças?", perguntou em uma carta. "Havia alguém em cima, no sótão, quando ouviram passos lá? Será que gatos, ratos, ou cães não podem ser os espíritos? 

           Contudo, todas suas perguntas tiveram respostas negativas e os fenômenos continuaram, inabaláveis. Os Wesley afirmavam ouvir passos a qualquer hora, bem como o farfalhar de um tecido, como se alguém estivesse arrastando uma longa camisola no andar de cima. Em uma ocasião, quando o senhor Wesley se sentou à mesa para jantar, seu prato de comida começou a dançar alegremente em cima da mesa. A esposa e as filhas de Wesley afirmaram ter  visto o ser assumir formas animais também, aparecendo às vezes como um texugo, outras vezes como um coelho branco. 

          Embora os distúrbios relatados na paróquia de Epworth tivesse durado apenas dois meses, deram origem a uma controvérsia que continua até hoje. Seriam autênticos os fenômenos? Os céticos asseguram que forças humanas, e não espirituais, podem ter sido as responsáveis. Wesley tinha muitos inimigos em Epworth, Alguns dos quais podem ter preparado os acontecimentos assustadores para expulsá-los da aldeia. Alguns criados descontentes também podem ter colaborado para atormentar a família. No auge do mistério, Wesley foi aconselhado por pessoas de todas as partes a abandonar a residência assombrada, mas desafiadoramente ele se recusou a fazê-lo. 

         Outros sugeriram que os eventos foram maquinados pela filha de 19 anos de Wesley, Hetty, que parecia estar no centro da maioria dos fenômenos. Aparentemente, a moça era muito inteligente, e pode ter-se visto entediada  e insatisfeita com a vida sossegada de Epwoth, talvez um pouco invejosa das realizações de seus irmãos. Contudo, se foi um logro, foi extraordinariamente bem executado, demonstrando imaginação e técnica. Até os partidários dessa tese têm dificuldade para explicar como uma moça de 19 anos, mesmo talentosa, pode ter conseguido imitar o ruído de moedas caindo, ou fazer dançar o prato de comida. 

         A teoria mais imaginativa foi aventada por Joseph Priestley, que mais tarde ficaria famoso como descobridor do oxigênio. Depois de examinar o caso, Priestley sugeriu que  Hetty poderia ter causado os incidentes, mas acreditava que ela o tivesse feito inconscientemente, sem de fato entender o que estava acontecendo, ou sem desejar que acontecesse. Priestley parece ter sido o primeiro a sugerir uma conexão entre as atividades de Poltergeist e os podres desconhecidos da mente humana. 

          As crenças de Priestley, que anteciparam as teorias sobre os Poltergeist de investigadores posteriores como William G. Roll, foram quase esquecidas na controvérsia que se seguiu ao notório  caso de Cock Lane, cerca de quarenta anos depois. Esse episódio capturou a atenção de toda Londres em 1762. Antes de chegar ao final, a história envolveria ainda escândalo, conspiração e uma suspeita de assassinato. Mais uma vez, havia uma jovem no centro de tudo.  

           O caso começou quando Willian Kent e a esposa, Fanny, chegaram a Londres e se alojaram em Cock Lane, uma rua pequena e tortuosa na periferia da cidade.  No início, Kent gostou de seu novo senhorio, Richard Parsons - tanto que lhe emprestou doze guinéus, soma considerável para a época, e contou a ele seu mais oculto segredo: Fanny, confidenciou Kent, não era sua esposa legal. A verdadeira, Elizabeth, morrera uma ano antes, durante o parto. Na verdade, Fanny era sua cunhada, que havia cuidado de Elizabeth durante toda a  gravidez problemática. William e Fanny haviam ficado íntimos com a tragédia; no entanto, as leis da época não permitiam que um homem se casasse com a irmã da esposa falecida. Parsons concordou em guardar segredo, e por uns tempos tudo pareceu ir bem em Cock Lane. 

           Os primeiros sinais de problema surgiram no outono de 1749. O senhor Kent saiu da cidade para assistir a um casamento e Fanny, que tinha medo de dormir sozinha, perguntou se a filha do senhorio, uma menina de onze anos de idade chamada Elizabeth, poderia passar a noite no quarto com ela, para fazer-lhe companhia. Nessa noite uma cacofonia de baques, golpes secos e rangidos assustadores encheram o quarto, impedindo que Fanny e Elizabeth dormissem. Quando esta última, na manhã seguinte, perguntou à mãe sobre os ruídos, a senhora Parsons explicou que um sapateiro, que morava ao ao, às vezes trabalhava durante a noite. Esta era, garantiu à filha e a Fanny, a fonte dos distúrbios. 

          Mas os ruídos assustadores continuaram nas noites seguintes, mesmo quando o sapateiro vizinho estava ausente. A situação piorou ainda mais quando Willim Kent voltou para casa da viajem e abriu um processos contra o senhorio, por não ter recebido o dinheiro que emprestara. Despeitado, Parsons reagiu divulgando a notícia de que os Kent não eram legalmente casados. O casal mudou-se imediatamente de Cock Lane. Mas o assunto desagradável não terminaria aí. Fanny, que nessa altura estava grávida de seis meses, ficou com medo de que os acontecimentos fantasmagóricos no quarto dela fossem um anúncio de sua própria morte - Talvez pela mãos do espírito vingador de sua irmã. Algumas semanas depois, Fanny morreu realmente. Embora um médico tenha atribuído a tragédia à varíola, o terror que ela sentia sem dúvida contribuiu para o desfecho. 

          As coisas não estavam muito melhores em Cock Lane, onde, segundo se conta, as manifestações de Poltergeist irromperam com nova força em janeiro de 1761, atormentando a filha dos Parsons, Elizabeth, agora com 13 anos, com batidas e rangidos fortes. Após a morte de Fanny Kent, Elizabeth ficou ainda mais perturbada, e começou a ter ataques. O pai dela, no entanto, negava-se a admitir a hipótese de uma manifestação sobrenatural. Com esperanças de que a família estivesse sendo vítima de uma brincadeira  cruel, ele arrancou os lambris do quarto de Elizabeth para expor a fonte dos ruídos. Nada encontrou. Os fenômenos não pararam quando a menina mudou de quarto, nem quando ela foi dormir em casas de vizinhos. 

        Parsons, sem saber o que fazer, pediu para o reverendo John Moore investigar. Moor, seguidor de John Wesley, tinha conhecimento dos estranhos incidentes na casa dos Wesley, quarenta anos antes. Acreditando que um espírito semelhante poderia ser responsável pelos problemas de Elizabeth, começou a conduzir uma série de sessões no quarto da menina, para travar conhecimento com a criatura. 

         Essas sessões conquistaram uma curiosa notoriedade em toda Londres, e não demorou para que a casa dos Parsons tivesse o prestígio de um salão da moda. Entre os que frequentavam Samuel Johnson, o eminente lexicógrafo e ensaísta; Oliver Godsmith, célebre autor teatral; e Horace Walpole, escritor e historiador. Godsmith, que escreveu um folheto anônimo sobre o fenômeno descreveu a atmosfera teatral do  quarto de Elizabeth: "O leitor deve imaginar um quarto muito pequeno com uma cama no centro; na hora normal de ir para a cama trocam e preparam a menina, com a solenidade apropriada; em seguida os espectadores são introduzidos e sentam-se olhando uns para os outros, contendo o riso,  e esperam em silêncio pela abertura da cena."

          Todavia, em pouco tempo haveria pouco motivo para risadas em Cock Lane. Parsons havia começado a acredita que o fantasma da falecida Fanny Knt era responsável pelos contínuos distúrbios. Como fazia um barulho parecido "com as unhas de um gato arranhando uma poltrona de vime", o espírito ficou conhecida como Scratching Fanny, ( Fanny, a que Arranha). Parsons e o reverendo Moore usavam um código simples - uma batida para sim, duas para não - para comunicar-se com o espírito. Através desse código grosseiro veio a acusação estarrecedora: Fnny, pois agora era assim que o espírito se identificava, fora assassinada por seu falso marido, Willian, mediante arsénico posto em uma "pinta purl", uma caneca de cerveja temperada. Além disso, continuou Scatching Fanny, ela esperava que Willian fosse enforcado por isso. 

          A acusação ecoou em toda a cidade. Kent, que estava  então trabalhando como corretor da Bolsa, só soube do que estava ocorrendo em Cock Lane pelos jornais. De repente, viu-se metido em um incômodo papel central. As pessoas começaram a apontá-lo nas ruas, e a acusação de assassinato não foi de muita ajuda para sua reputação profissional. 

          Kent não hesitou em voltar para Cock  Lane e confrontara família Parsons em uma das sessões de Elizabeth. Ao ouvir o espírito repetir a acusação, gritou irado: "És um espírito mentiroso! Não és o espírito da minha Fanny. Ela nunca diria algo assim." Logo estava-se diante de uma crise. Devido à gravidade da acusação contra Kent, decidiu-se submeter Elizabeth a rigorosos testes, para eliminar a possibilidade de logro. A vida de Kent estava em jogo. Se a atividade do Poltergeist fosse considerada autêntica, ele com certeza seria julgado por assassinato. Senão, então os Parsons eram culpados de montar uma fraude elaborada e nociva, talvez como vingança pelo processo movimentado por Kent para recuperar seu dinheiro.  

          Os testes foram desconfortáveis e rigorosos. Em uma sessão, Elizabeth foi estendida em uma rede com seus braços e pernas sob rigoroso controle. Em outra, mandaram-na deixar as mãos à vista, acima dos cobertores. Sob condições mais estritas, os fenômenos cessaram. Disseram à infeliz Elizabeth que se ela não conseguisse produzir uma manifestação de Poltergeist seu pai seria preso por fraude. Na sessão seguinte, a criança foi pega em flagrante no momento em que tentava esconder um pedaço de madeira, que poderia ser usado para produzir os sons de raspagem, debaixo do vestido. 

           A revelação deu um fim ao fantasma de Cock Lane. Parsons foi julgado culpado de conspiração e condenado ao confinamento em um pelourinho público, onde as autoridades acreditavam que ele seria coberto por gatos mortos, comida podre e outras imundícies atiradas pelos passantes. O público inglês, porém, não estava convencido da culpa de Parsons. Em vez de lixo, as pessoas atiravam dinheiro para o senhorio condenado. 

          Muitos pesquisadores modernos compartilham da simpatia para com os Parsons.  Com certeza, argumentam, o truque  de Elizabeth pode ser entendidos -e talvez até desculpado - pela temível perspectiva de ver o paina prisão, mas o fato de ele ter trapaceado uma vez não desacredita automaticamente as manifestações anteriores. Nem tampouco o pedaço de madeira contrabandeado por Elizabeth podia explicar todos os ruídos ouvidos em Cock Lane, principalmente o relatado por uma babá, que falou de um pássaro grande voando por sobre nossas cabeças".

            A história teve um adendo arrepiante. Em 1850, quase  cem anos após os eventos de Cock Lane, um homem e um menino aproximaram-se de uma cripta funerária na igreja de Saint John, em Londres. o Ilustrador de um livro sobre fenômenos sobrenaturais tinha vindo dar uma olhada na famosa Scratching Fanny, cujo espírito fora fonte de tantas acusações e histórias fantásticas, e que se acreditava estar enterrada naquela cripta. Iluminado por uma lanterna, o filho do desenhista abriu a tampa de um caixão empoeirado. O rosto dentro do ataúde era o de uma bela mulher jovem. Nenhum sinal de varíola, que se supunha ser a doença que a tinha matado, era visível. Mais estranho ainda, cem anos depois de morta, a mulher tinha poucos sinais de deterioração. "Os restos", escreveu o artista, "estavam perfeitamente conservados."

       Para os cientistas legistas de hoje, a descoberta talvez seja indício de um fim que nada tem a ver com a varíola. A deterioração lenta do corpo pode ser sinal de morte por envenenamento com arsênico.

         Os efeitos do episódio de Cock Lane seriam sentidos por algum tempo, tanto pelos que acreditavam quanto pelos céticos. Quando uma nova febre de Poltergeist varreu Londres, dez anos depois, as pessoas estavam prontas para desconfias de uma fraude. No entanto, os eventos relatados na casa e uma viúva idosa, chamada senhora Golding, no tranquilo povoado de Stockwell, na Inglaterra, foram ainda mais desconcertantes - e muito mais destrutivos - do que os de Cock Lane.

          De acordo com os relatos do incidente, o Poltergeist de Stockwell anunciou-se por um caos de objetos voadores, em janeiro de 1772. Bandejas, relógios e lanternas despencaram no chão da cozinha da senhora Golding, ovos e velas cruzaram os ares e a água deixada em uma chaleira começou a ferver inexplicavelmente. A senhora Golding, "uma dama fina, de caráter e reputação irrepreensíveis", ficou completamente perturbada e chamou diversos amigos e vizinhos para testemunhar os fenômenos. 

           Chegou-se rapidamente à conclusão de que as manifestações estavam centradas na jovem Ann Robinson, uma criada de 20 anos contratada pela senhora Golding apenas dez dias antes de começar  infestação pelo Poltergeist. Quando  Ann saia da casa, os distúrbios paravam. Quando entrava, começavam de novo.  Assim que isso foi descoberto , a criada foi despedida. 

          Anos depois, Ann confessou a uma amiga que ela mesma - e não um agente espiritual - produzira as manifestações, usando truques e prestidigitações astutas. Com a ajuda de armes e de finos fios de pelo de cavalo, ela fazia com que os pratos e potes parecessem cair por si mesmos das prateleiras. Atirava os ovos  quando todos estavam olhando para outro lado. Quanto à água fervente, ela simplesmente jogou na chaleira um envelope de um produto químico que faz a água borbulhar. E por que teria ela preparado uma trapaça tão elaborada? A confidente dela diz apenas que havia "uma história de amor ao caso", sugerindo que Ann pode ter querido afugentar a senhora Golding da casa para poder dar prosseguimento a algum tipo de intriga com um namorado. 

            Aparentemente, a confissão deveria esclarecer e desacreditar o breve e sensacional caso Stockwell, mas moderno investigador psíquico Harry Price não acreditou. Price observou que "nem mesmo o maior conjurador vivo poderia produzir os efeitos de Stockell por meio de arames e coisas do gênero., rodeado  de pessoas que estavam à procura de truques, em um cômodo bem iluminado, sem ser detectado instantaneamente". Se a observação de Price estiver correta, teremos um caso estranho nos anais da paranormalidade - um caso em que uma confissão de fraude é ela mesmo uma fraude. 

           Não haveria confissão de fraude como essa na solução do caso Stans, do início da década de 1860.  A contrário, Melchior Joller, cuja família foi vítima do ataque, parece ter obtido alguma visão secreta da verdadeira natureza dos Poltergeist, mas preferiu levá-la consigo para a tumba. 

           Joler, um distinto advogado suíço, chegou certo dia a sua casa ancestral perto do lago Lucena e encontrou os moradores amontoados no celeiro, chorando de puro terror. A casa fora tomada por um duende maligno e destrutivo, afirmam.




    


CONTINUA

 

 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

SINAIS DO PASSADO

 

     Casa anterior 

Escombros da antiga casa  mais assombrada da Inglaterra
 

          A casa mais assombrada  da Inglaterra é a antiga paróquia de Broley. Está em uma rgião desolada e pouco povoada perto da costa leste da Inglaterra, no condado de Essex, perto da divisa com Sullfolk. É um lugar de aparência sombria, cenário adequado para um dos casos mais bem documentados e controversos de assombração dos tempos modernos - uma série de acontecimentos estranhos ocorrida em uma escura mansão vitoriana. 

           Borley deve sua fama principalmente ao irrefreável Harry Price, fundador do Laboratório de pesquisas Psíquicas e o mais famoso caçador de fantasmas  de sua época. En 1929, Price ouviu falar de distúrbios peculiares na casa paroquial de Borley, uma construção em alvenaria erguida em 1863 como residência para os pastores da igreja local. Desde o início, conta-se, os moradores da casa foram perturbados por aparições fantasmagóricas e ruídos estranhos: um homem sem cabeça e uma moça de branco, o barulho de carruagem fantasmal for de casa, passos arrastados e batidas em seu interior. E havia ainda a figura especial de uma freira vagando inquieta pela casa e pelo jardim, cabisbaixa e com semblante de pesar.

           A tradição local tinha uma explicação romântica. Dizia-se que no local da casa houvera outrora um mosteiro, flanqueado por um convento, e que no século XIII um monge e uma bela noviça jovem haviam sido apanhados quando tentavam fugir para casar-se. O monge foi enforcado e a pretendente a freira foi emparedada viva no convento. Para um pesquisador experiente de fatos paranormais como Price, essa deve ter parecido uma história velha e batida - os espíritos de freiras e monge, bem como as carruagens espectrais, são figurinhas repetidas nas histórias inglesas de fantasmas. Mas os fenômenos de Borley revelaram-se mais complexos. 

         Mais ou menos na mesma época em que Price se interessou por Borley, o casarão começou a ser alvo da enérgica atividade de um Poltergeist.  Sinos tocavam, luzes acendiam sozinhas e objetos voavam pelo ar. Em 1930, o reverendo Lionel Foyster e sua atraente esposa, muito mais jovem que  ele, mudaram-se para a casa, e as manifestações ficaram mais frequentes. E um novo fenômeno - que Price considerou único nos anais da paranormalidade - manifestou-se: misteriosas mensagens escritas começaram a aparecer nas paredes e em pedaços de papel espalhados pela habitação. 

           Em 1937 - quando a construção já fora abandonada como residência paroquial - Price alugou a casa por um ano e instalou um rodízio de observadores para documentar os fenômenos. Escreveu mais tarde dois livros populares sobre o caso, dando também inúmeras palestras e entrevistas no rádio sobre o assunto.  

           A incansável publicidade promovida por Price fez com que Borley ficasse famosa e fosse alvo de pesquisadores rivais, que por décadas se debateram com o mistério.Os detratores afirmaram que todo o caso era suspeito, zombando das técnicas de pesquisa de Price e, em particular, de sua equipe de observadores amadores, recrutados por anúncios em jornais. Os críticos chegaram até a sugerir que Price houvesse orquestrado pelo menos alguns dos supostos fenômenos de Poltergeist. No final, porém, o controvertido caçador de fantasmas acabou encontrando indícios de uma tragédia do passado longínquo que parecia explicar as assombrações - e convenceu muita gente de que as manifestações eram autênticas. 

       O reverendo Henry Dawson Ellis Bul, que se tornou pastor da igreja de Borley em 1862, não se perturbou com as histórias de fantasmas em sua paróquia e não hesitou em construir seu novo lar no local em que se dizia ser mais provável a assombração dos irrequietos espíritos da aldeia. 

        Segundo a lenda local, a casa paroquial de Borley foi constuída sobre as ruínas das fundações de duas estruturas muito mais antigas: o solar da nobre família Waldgrave e um antigo monastério.  

       Ao longo dos anos, os criados e as filhas de Bull foram continuamente molestadas por estranhos ruídos de batidas, passos fantasmagóricos  e a perturbadora aparição de figuras espectrais. O requintado Bull, porém, parecia considerar  essas estranheza como uma esplêndida forma de divertimento. Chegou até a construir um quiosque onde ele e seu filho mais velho, Henry, podiam desfrutar de um charuto após o jantar enquanto assistiam aos passeios crepusculares da freira especial. 

        Com a morte do pai, em 1892, a casa paroquial, os fantasmas e o emprego de pároco passaram para as mãos de Harry, que ali ficou até morrer em 9127. Mas o sucessor dos Bull, o reverendo Guy Smith, deixou a reitoria apenas um ano depois de instalar-se, incomodado com os fantasmas de Borley - aos quais, aparentemente, havia se juntado um poltergeist - e pelo estado deplorável e cada vez mais dilapidado da casa. 

          Até então, os fntasmas de Borley pareciam relativamente benignos. Isso mudou quando o reverendo Lionel Foyster e  sua esposa Marianne se mudaram para lá, em outubro de 1930. As batidas dentro das paredes ficaram mais fortes e mais insistentes, os móveis eram deslocados e as portas pareciam trancar-se sozinhas. Mais perturbadora era a violência que parecia ser dirigida contra Mariane, que foi jogada de sua cama, atingida diversas vezes por uma pesada mão invisível e forçada a esquivar-se de objeto pesados que voavam para cima dela noite e dia. 

          Em seu primeiro livro - publicado em 1940, cinco anos depois que os Foyster haviam se muddo - Price deixou implícito que desconfiava do uso de prestidigitação (truques para iludir)  por Mariane para montar alguns distúrbios. Ao mesmo tempo, porém, afirmou categoricamente que pelo menos um dos espíritos que assombraram Borley por tantas décadas encontrou na esposa do pastor uma alma solidária.Julgou que essa teoria era apoiada pelas arrepiantes mensagens escritas nas paredes,dirigidas a Marianne. 

            As mensagens, pedidos queixosos de ajuda escritos com caligrafia  infantil, pareciam ser de outra mulher jovem - a qual, por suas referências a orações, missas e incenso, fora católica. Foram pistas importantes que,como peças de um quebra-cabeça, encaixam-se com perfeição na história que Price acabou montando para explicar o mistério de Borley,um relato macabro de assassinato e traição,  cuja personagem central era uma jovem freira,mas não a da lenda local.

           Durante o ano em que alugou a antiga casa paroquial de Borley, Harry Price e sua equipe não descobriram fenômenos novos, mas um acontecimento sensacional deu a Price informações para chegar à solução que ele estava procurando. 

          A descoberta deu-se através do uso da planchett, instrumento equipado com um lápis que se move - supostamente guiado por espíritos - na prancheta, escrevendo mensagens pela mão de um assistente. Um suposto espírito, que se identificou como Marie Lairre, contou que havia sido freira na França do século XVII,  mas que deixara  o hábito para casar-se com Henry Waldegrave, membro da abastada família cuja casa senhorial se erguera um dia no ponto em que agora existia a residência do pastor. No solar , tempos depois,ela teria sido estrangulada pelo marido, que escondera seus restos no porão. 

           A história parecia explicar o fenômeno mais instigante daquele lugar.  A angustiada figura da freira e as mensagens escritas podiam agora ser interpretadas como indícios de que a mulher fora enterrada em solo não-consagrado, estando por isso condenada a vagar perpetuamente, em uma busca vã pela paz final. 

             Em março de 1938, cinco meses após a mensagem de Marie Lairre, consta que  outro espírito se manifestou sobre o assunto, prognosticando que um incêndio iria ocorrer naquela noite e que a prova do assassinato da freira seria encontrada nas ruínas. 

           Borley não ardeu naquela noite. Mas, onze meses depois, o novo proprietário, o capitão H. H. Gregson, estava desempacotando seus livros quando uma lamparina no saguão caiu, dando início ao incêndio.  O fogo alastrou-se rapidamente e a antiga casa paroquial de Borley foi destruída, dando finalmente a Price  uma oportunidade para procurar sob a terra alguma prova física que service para explicar a assombração.

          Por várias razões, ele só pediu licença a Gregson para escavar em 1943. "Procurem sob o chão de tijolos, no porão", implorava uma das mensagens dos espíritos; após um só dia de escavações, a equipe de Price descobriu  alguns ossos frágeis que acabaram sendo identificados como pertencentes a uma mulher jovem - para Price, a evidência de que havia algo verdadeiro naquela história da freira assassinada. 

           Aparentemente, um enterro cristão para os ossos  deu ao fantasma da casa paroquial de Borley o sossego que ele tanto buscava havia tempos. Nunca mais ouviu-se falar de assombrações na casa em ruínas, que foi finalmente demolida em 1944. 


segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

ASSOMBRÇÃO RETROCOGNITIVA - VOLTA NO TEMPO

 

                                                              Petit Trianon

                 Esta história de volta no tempo da Revolução Francesa se passou foi protagonizada por duas senhoras amigas que visitavam o Petit Trianon na França de nossos dias. Ela conta tudo o que sentiram durante a visita. Aqui é contada em forma de romance para ser mais agradável.

No final você poderá ler as minhas impressões conclusões vistas pela lado científico. 

 

      Há muito tempo os pesquisadores paranormais são fascinados por um tipo raro de assombração conhecido como retrocognição, isto é conhecimento retroativo. São situações nas quais os receptores dizem experimentar acontecimentos e ambientes do passado, como se fossem transportados no tempo.

     Os relatos de experiência desse tipo não são novos. W.H.W.  Sabine, um estudioso de paranormalidade, sugere que a descrição da criação feita no Gênese tenha baseado em retrocognição. E esses continuam a ocorrer.  Em 1963, a senhora Coleen Buterbaugt, secretária da Universidade Wesleyan em Nebraska, contou que, ao entrar em uma sala do campus, foi golpeada por um silêncio súbito, sentiu a presença de um homem invisível, em uma escrivaninha e viu uma mulher com vestido antiquado que "simplesmente desvaneceu-se". Quando olhou pela janela, contou a secretária, "não havia uma única coisa moderna lá fora e em a rua estava lá. Foi quando me dei conta de que aquelas pessoas não estavam no meu tempo, mas eu estava de volta ao tempo delas". Saindo de novo para o corredor, relatou, ela se viu de volta ao tempo presente. 

       Mas o caso mais famoso e sensacional de assombração retrocognitiva   veio à atenção do público em 1911. Neste ano, as inglesas Anne Moberly e Eleanor Jaurdain publicaram  um livro chamado Uma Aventura. Era o relato de uma misteriosa experiência pela qual as duas haviam passado dez anos antes em Versalhees, o grande palácio vizinho a Paris que foi outrora a sede dos reis da França. O que as duas  mulheres afirmaram ter visto é um assunto que vem sendo estudado à muitos anos  pelos espiritualistas. 

         A experiência das duas amigas continuou. No verão de 1901, Eleanor Jourdain convidou sua conhecida, Anne Moberly, para juntas dar um passeio de duas semanaspor Paris e seus arredores. A senhorita Moberly chefiava a ala residencial para mulheres na Universidade de Oxford, e a senhorita Jourdain estava estudando  a possibilidade de ir trabalhar como sua assistente. A viagem, que seria a primeira visita de Anne à França, e a segunda de Eleanot, permitiria que se conhecessem melhor. 

         A despeito das diferenças de idade e personalidade, as duas descobriram que tinham muito em comum.  Ambas eram damas convencionais. Anne Moberly, de55 anos, era uma mulher tímida com fogosos olhos escuros por trás de um pincenê que cavalgava um nariz forte. Devia sua posição em Oxford não a sua educação, nem a suas capacidades administrativas, mas a sua posição social, como filha de um bispo anglicano. Eleonor Juourdain era competente, extrovertida, encantadora e vinte anos mais jovem que a senhorita Moberly. Também havia crescido na família de um e clérigo.

         No dia 10 de agosto, as duas forem de trem para Versalhes.  Nenhuma delas conhecia muito a história francesa. Anne admitiu que aprendera menos em obras eruditas do que em romances; e os cursos de história de Eleanor em Oxford haviam sido clássicos, interrompendo-se antes da era em que Versalhes florescera. 

         Fizeram diligentemente o passeio pelo palácio. O dia estava excepcionalmente fresco e ventoso paga agosto, e elas decidiram caminhar até o Petit Trianon, um dos dois palácios menores do conjunto. O fato de a última ocupante do Petit Trianon ter sido a malfadada  rainha Maria Antonieta dava-lhe um apelo romântico. Ela tivera profundos laços com aquele lugar, onde se recolhia para afastar-se da rígida etiqueta e das intrigas da corte. Com seu guia Baedeker em mãos e, talvez, uma lembrança da morte da rainha na guilhotina na cabeça, as duas entraram.

        Conversando  afavelmente, as inglesas passaram por um enorme jardim formal e depois enveredaram por uma alameda.  Mas as indicações não estavam claras, e elas acabaram saindo do bosque, deparando com o prédio errado - haviam chegado ao palácio chamado de Grand Trianon. 

        Depois de dar uma outra olhada no guia, seguirm por uma trilha que parecia levar ao Petit Trianon. A senhorita Moberly notou uma mulher sacudindo um pano da janela de um edifício pelo qual passaram, mas para sua surpresa a senhorita Jourdain  - que, ao contrário dela, era fluente francês e servia como porta-voz nos passeios que  as duas faziam - não pediu informações.

         O local estava curiosamente vazio de outros turistas. Em uma encruzilhada da qual partiam três caminhos, encontram dois homens de aparência grave com casacas  verdes e chapéus de três pontas. Pareciam ser jardineiros, pois havia um carrinho de mão e uma pá junto a eles. Quando Eleanor Jourdain  perguntou pelo caminho que levava ao Petit Trianon, os homens responderam,mas de maneira tão friamente mecânica que ela repetiu a pergunta, obtendo de novo a mesma resposta.  Olhando em volta, notou as roupas antiquadas de uma mulher e uma menina que estavam paradas na porta de uma casinha próxima. Sem fazer comentários com a companheiro, continuou com ela na direção indicada pelos dois homens. 

         Sem qualquer motivo aparente, a senhorita Moberly foi tomada de repente de uma extraordinária depressão. Talvez tímida demais para externar seus sentimentos a uma conhecida tão recente, não mencionou sua melancolia, mas foi sentindo cada vez mais angustiada. Ao mesmo tempo, a senhorita Jurdain também foi atacada por um sentimento quase esmagador de solidão, começando a sentir-se como uma sonâmbula. Ela tampouco mencionou a sensação que tomava conta dela, enquanto prosseguiam a caminho de Petit Trianon.

           Mergulhadas silenciosamente em sua depressão cada vez mais profunda, as duas professoras seguiram o caminho indicado pelos homens de casaca verde até encontrarem outra bifurcação. Bem diante delas erguendo-se sobre o mato à sombra do denso bosque, havia um pequeno quiosque redondo, onde estava sentado um homem com uma capa. O dia, que até então estivera incomumente fresco e arejado, ficou ameaçador, transmitindo uma sensação quase claustrofóbica. 

          Anne Moberly escreveu depois que tudo à volta dela "de repente pareceu pouco natural, e portanto desagradável; até as árvores atrás do quiosque pareciam planas e sem vida, como um bosque de tapeçaria. Não havia nuanças de luz e sombra, nenhum vento agitava as árvores, Tudo intensamente  parado". 

         O homem então virou a cabeça e olhou para elas. A sensação de mal-estar  transformou-se em medo, diante do olhar perverso no rosto escuro e bexiguento.  Ao mesmo tempo, a senhorita Jurdain não estava segura de que ele estivera de fato olhando para elas. A senhorita Moberly, por sua vez, ficou totalmente alarmada com o rosto, que lhe pareceu repulsivo e odioso. Mas nem ela, nem a companheira expressaram seus temores, falando apenas sobre a dúvida acerca do caminho a tomar. 

            Com se saísse do nada, um belo cavalheiro de longos cachos negros e chapéu de abas largas, calçando sapatos de fivela e coberto por uma capa, apressou-se em direção a elas, dizendo-lhes que deveriam ir pela direita para chegar ao palácio. Depois, inesperado guia continuou apressado, e em poucos instantes havia desaparecido. 

         Surpreendidas com sua rápida materialização e desaparecimento, mas agradecidas pela ajuda, as duas mulheres retomaram o caminho, que as levou através do bosque sombrio. No final deste, as inglesas finalmente avistaram o Petit Trianon pela primeira vez.

           As duas mulheres saíram do bosque e atravessaram um jardim em estilo inglês, em direção à fachada norte do Petit Trianon, o qual, na opinião de Anne Moberly, parecia mais uma casa de campo elegante do que um estabelecimento da realeza. Perto de um terraço que rodeava os lados norte e oeste do palácio, Anne Observou uma mulher que parecia estar desenhando.

           Os cabelos claros e bem bonita, portava um chapéu branco de abas largas e um vestido comprido, com um lenço claro nos ombros. Um conjunto evidentemente antiquado, concluiu a senhorita Moberly, para uma turista. Sentiu-se de algum modo incomodada com a mulher, pela qual ela e a companheira passaram em silêncio.

        Anne Moberly sentia-se oprimida pela quietude pouco natural e por uma sensação de sonho, quando ela  e Eleanor chegaram ao Terraço e deram a volta ao palácio, até chegarem ao pátio, na fachada sul. Lá juntaram-se a um alegre grupo de franceses que comemoravam um casamento - todos adequadamente vestidos com roupas do século XX - e entraram no palácio para visitar  o interior. O humor sombrio dissipou-se, e sua boa disposição normal voltou. 

         Talvez querendo suprimir uma experiência inquietante, as duas senhoras falaram sobre o passeio até duas semanas depois, quando Anne Moberly começou a escrever para a irmã uma carta na qual mencionava a busca do Petit Trianon. Enquanto estava escrevendo, senti-se mais uma vez  tomada pela depressão. Virou-se para a senhorita Jourdain e exclamou: "Você acha que o Petit Trianon está assombrado?" Eleanor respondeu, sem hesitar: "Sim, acho." Só então falaram a respeito das sensações que haviam tido naquele dia e tentaram explicar as estranhas roupas e atitudes do cavalheiro que haviam encontrado perto do quiosque. Depois dessa conversa, não voltaram ao tema até o final da viagem. Vários meses se passariam antes que o assunto voltasse à baila. 

         De volta a Oxford naquele outono, a senhorita Jourdain espantou-se quando Anne Moberly comentou que haviam passado por uma mulher sentada, no jardim do Petit Trianon. Ela não vira a mulher sentada. Mais tarde, ficou sabendo que o dia 10 de agosto, data da visita a Versalhes, fora crucial na história francesa, pois fora nessa data, em 1792, que as forças revolucionárias haviam prendido a família real, marcando o começo do fim para Maria Antonieta; depois disso ela encontraria a prisão e a guilhotina. As duas professoras especulam: teriam captado um traço da memória da rainha pairando perto do seu amado palácio, naquele aniversário negro? Era uma fantasia que pedia outra visita. 

         Eleanor Jourdain voltou a Paris nos feriados de Natal. Em um dia frio e úmido de janeiro ela atravessou o parque do Petit Trianon em direção a Hameau, uma diminuta reprodução de uma aldeia camponesa construída para Maria Antonieta, que a visitava quase todos os dias. Sensações de sonho e estranhas percepções acometeram a a senhorita Jourdain quando ela se aproximou do local. Passou por dois homens vestidos de túnica e capuz, carregando lenha em uma carroça. Quando olhou para trás alguns instantes depois, os homens haviam desaparecido. 

         Em Hameau, Eleanor foi de casa em casa, oprimida por um desânimo que se aprofundava à medida que se aproximava da cabana d rainha. Voltando ao bosque, ela vagou por um emaranhado de trilhas ocultas pela vegetação rasteira. Embora tenha ouvido o farfalhar de vestidos de seda (roupa imprópria para um dia úmido, pensou ela) e mulheres falando em francês, não viu ninguém além de um velho jardineiro grisalho.  de vez em quando, leves ecos de música de violino chegavam até ela.

        De volta ao palácio principal, a senhorita Jourdain perguntou se haveria um concerto no Petit Trianon naquele dia. Não, disseram-lhe, não houve concerto. Ela começou a pensar que devia ter ouvido música fantasmagórica vinda do passado. 

          O segundo passeio feito por Eleanor Jourdain em Versalhes reforçou a convicção das mulheres de que haviam experimentado algo fora do comum. Comparando seus relatos sobre a visita de  agosto, escritos independentemente , notaram algumas discrepâncias estranhas. Além de não ter visto a mulher desenhando no jardim, Eleanor não vira a mulher sacudindo o pano na janela. Por outro lado, Anne Moberly não notara a cabana com a mulher e a menina na porta. Era como se ambas houvessem visto através do tempo, cada uma delas tendo capturado imagens imperfeitas e diferentes. De algum modo, concluíram as mulheres, elas haviam assistido passivamente aos pensamentos de Maria Antonieta.  Segundo a hipótese delas, as visões que as tinham envolvido eram cenas de um vivo e melancólico devaneio que ocupara outrora a mente da rainha. Procurando ligar sua experiência à vida de Maria Antonieta, elas pesquisaram e estudaram dezenas de documentos. Um mapa traçado pelo arquiteto da rinha sugeriu-lhes que de fato houvera uma cabana onde a senhorita Jourdain vira uma, embora agora o lugar estivesse vazio. Em outro exemplo, um registro arquitetônico de 1780 mencionava uma pequena estrutura com colunas onde elas achavam ter visto o quiosque. 

        Convenceram-se também, com suas pesquisas, de serem capazes de identificar as pessoas que haviam encontrado. Os homens e casaco verde com o carrinho de  mão, concluíram não eram jardineiros, mas membros da Guarda Suíça encarregados de proteger o rei e a rainha. O homem sentado no quiosque foi identificado como o conde de Vaudreuil, que se revelara um falso amigo da rainha ao convencê-la a permitir a apresentação de uma peça sutilmente anti-monarquista. As professoras acreditavam terem sentido o desagrado da própria rainha ao verem Valdreuil. 

         Pedaços  convergentes de informação levaram-nas ao dia 5 de outubro de 1789, data relevante para alguns dos eventos que observaram. Segundo a tradição histórica, um mensageiro havia corrido ao Petit Trianon naquele dia para avisar a rainha de que uma turba revolucionária estava vindo de Paris. As pesquisadoras ligaram esse mensageiro ao homem  correndo perto do quiosque. E, no livro de  contas de um pagador, descobriram que fora  contratada uma carroça para carregar lenha  naquela data - a tarefa que Eleanor Jourdain vira executarem perto de Hameau. 

          Todas as peças do quebra-cabeças pareciam encaixar-se. Os homens de capa, por exemplo, pareciam estar vestidos mais para o outono do que para um dia quente de agosto. Qualquer que fosse a precisão das interferências delas, Maria Antonieta teria recordado aquele dia com uma mistura de nostalgia e pesar pois, segundo a tradição, foi então que a família real deixou Versalhes para fixar residência em Paris. A rainha nunca mais voltou a ver seu adorado Petit Trianon.

          O pesquisador de paranormalidade G. W. Lambert sugeriu mais tarde que elas poderiam ter tido uma genuína experiência retrocognitiva, mas que confundiram o ano. A pesquisa feita por ele indicou que o quiosque e diversos outros elementos descritos por eles haviam sido removidos por volta de 1774. Ele sugeriu que elas  talvez tivessem visto acontecimentos de cerca de 1770, e não de 1789. 

         As senhoritas Moberly e Jourdain podem também ter visto apenas atores em costumes de época. O biógrafo Phillipe Julian descobriu, ao pesquisar a vida de um brilhante poeta de virada  do século, Robert de Montesquiou, que este e seus amigos com frequência ensaiavam peças históricas perto do Petit Trianon. E Maria Antonieta era uma das personagens prediletas deles. Em um livro de 1965, Jullian sugere que as inglesas podem ter deparado  com um desses grupos amadores de teatro.

          A teoria de Jullian mostrou ser convincente. Dame Joan Evans, uma historiadora da arte e amiga das protagonistas, a quem Eleanor  Jourdain e Anne Moberly  deixaram os direitos  de seu livro em testamento, estava convencida  de que Jullian havia descoberto a verdade, transformando uma instigante história de retrocognição em um mero caso de erro honesto de interpretação. Baseada em sua convicção, Dame Joan recusou-se a permitir qualquer edições posteriores de Uma Aventura em inglês. Mas muitos que leram o livro ainda creem fervorosamente que, de algum modo, as duas mulheres tiveram de fato uma breve visão de um mundo há muito desaparecido.

CONCLUSÕES E IDEIAS

Muitas vezes chegamos a algum lugar ou encontramos alguma pessoa e temos a sensação de que ali já estivemos algum tempo atrás e que, de alguma maneira, conhecemos determinada pessoa.

É preciso compreender que tudo é uma questão de genética. 

Se você é descendente de determinada raça, certamente teve ancestrais que viveram em outros tempos e outros lugares. Por exemplo: na Ásia, muitas pessoas tem o gene de  mongóis (uma raça de guerreiros do Gengis Kan  que invadiam aldeias, matavam pessoas inocentes e estupravam centenas de mulheres). Muitas destas mulheres tiveram filhos e assim transmitiram o genes do estuprador que se espalhou pelo mundo todo. 

Nessa história imagino ser possível que as duas amigas tiveram ancestrais que viveram na época da Revolução Francesa e, depois, transmitiram seus genes carregados das lembranças mais difíceis para os seus descendentes. A genética de antepassados pode se manifestar em forma de impressões visuais e também de sonhos e pesadelos.

O nosso cérebro é muito mais poderoso do que imaginamos. Muitas lembranças marcantes  ficam armazenadas e posteriormente transmitidas para os seus descendentes.

Nicéas Romeo Zanchett 


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sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

A VINGANÇA DA BARONESA DE BRANCO

 

 

          Construída em 1028, a fortaleza pertenceu sucessivamente a vários nobres bávaros encrenqueiros, a maioria deles envolvidos nas incessantes disputas dinásticas da região.

         A fortaleza bávara de Wolfsegg, às margens do do rio Danúbio, numa história de quase mil anos, jamais caiu em mãos inimigas, mas enquanto seus muros resistiam a sítios e lutas do lado de fora, abrigavam a violência do lado de dentro, deixando  feridas  do lado de dentro que ainda hoje ecoam na forma fantasmagórica de uma mulher que ali morreu à séculos. 

        Construída em 1028, a fortaleza pertenceu sucessivamente a vários nobres bávaros encrenqueiros, a maioria deles envolvidos nas incessantes disputas dinásticas da região 

        Uma história renascentista de assassinato triplo rodeia um desses clãs guerreiros aristocráticos, os Laaber Wolfsengg. A história conta que, no século XIV, um barão Laaber casou-se com uma mulher adorável, que foi vítima de um complô abominável.   Querendo conquistar a valiosa propriedade, os gananciosos parentes do barão conspiraram para colocar a jovem esposa em situação comprometedora com um homem que não era o marido.Depois disso, contaram ao barão que sua mulher estava tendo um encontro ilícito. Ele apareceu no castelo e deparou com o que parecia ser um encontro amoroso. Matou então a esposa e seu suposto amante, sendo em seguida morto pelos parentes, que alegaram estar fazendo justiça. Juntamente com a a propriedade feudal, os parentes podem ter herdado também uma maldição, pois há quem diga que a baronesa, vestida com roupas brancas luminosas, ainda caminha pelos salões e escadarias de Wolfsegg. Residentes do castelo afirmam ter visto aparições brilhantes, ouvido passos fantasmagóricos e sentido inexplicáveis correntes de ar frio.

        Os céticos dizem que as luminescências de Wolfsegg não passam de fogo-fátuo, emanações gasosas de uma caverna repleta de morcegos sob o castelo. Outros, porém, acreditam  na volta da Dama Branca ao lugar da traição, para limpar seu nome e obter justiça. 


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CASTELO DE STARLING E FANTASMAS

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            O famoso Castelo de Starling foi construído no alto de um penhasco de basalto acima do rio Forth  sempre foi considerado como a mais poderosa fortaleza da Escócia. 
           A construção de pedra, que até hoje está em pé, foi erguida no século XV, no lugar de um forte de madeira que por cerca de trezentos anos dominara as planícies circundantes.  Por sua localização e resistente construção de pedra,Starling era uma excelente residência real. Suas janelas proporcionavam uma visão panorâmica de batalhas cruciais das guerras medievais dos escoceses pela independência contra a Inglaterra. 
           Em 1543, Mary, rainha da Escócia foi coroada na capela do castelo, e voltou a viver em Starling ocasionalmente quando adulta.  
            O famoso castelo foi transformado em hotel e local de visitas que recebe centenas de pessoas curiosas. Conta-se que miríades de fantasmas vagam pelos salões de Starling, e muitas lendas os envolvem. Uma delas diz respeito a uma Dama Verde, cuja aparição foi relatada por diversos hóspedes do castelo, inclusive nos tempos modernos. Dizem que, em vida, ela foi criada de Mary, tendo salvo a vida de sua senhora. Diz a lenda que a a jovem teve uma premonição de que Mary estaria em perigo, correu aos aposentos da rainha e deparou com as chamas consumindo a pesada cortina do leito real. A rainha estava dormindo, mas a criada colocou-a em segurança. Mais tarde, Mary relembrou uma profecia segundo a qual um incêndio em Starling ameaçaria sua vida. 
           Já se passaram vários séculos e a Dama Verde sempre foi considerada como um prenúncio de incêndio de incêndios e outros desastres. Segundo dizem, ela foi vista pela última vez pelo cozinheiro de tropas aquarteladas no castelo. Ele afirmou que estava preparando a sopa quando sentiu alguém olhando para ele. Ao virar-se, viu a forma nebulosa de uma mulher vestida de verde. Contudo, nenhuma catástrofe se segui, porém, o cozinheiro assustado desmaiou no mesmo instante.
 
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FANTASMAS NO CINEMA E NO TEATRO

           Segundo consta nas histórias e lendas, os fantasmas abundam nos teatros do West End londrino. Sem dúvida é provável que os promot...