Os acontecimentos macabros em Ash Manor começaram no início do verão de 1934, quando um homem chamado Maurice Kelly comprou a casa do século XIII e seus dez alqueires de florestas. Bastou que se mudasse com a esposa, Katherine, e a filha de 14 anos, para que família começasse a ser perturbada por um barulho vindo da mansarda. Parecia que alguém estava batendo o pé nas tábuas do assoalho - o que era impossível, posto que este fora removido, deixando apenas as traves nuas.
Os ruídos eram inquietantes, mas de modo algum amedrontadores a ponto de obrigar o novo proprietário a levantar acampamento e abandonar a casa. Kelly era um homem de negócios, nem um pouco dado a fantasias, que comprara a casa por uma bagatela e estava muito contente com seu excelente negócio. Não estava disposto a fugir de fenômenos que podiam ser razoavelmente explicados pelos ruídos a que as casas velhas costumam estar sujeitas. Porém, na noite de 18 de novembro, sua reconfortante racionalização começou a desabar.
Kelly foi tirado de um sono profundo por fortes batidas na porta de seu quarto. Levantou-se e foi até os aposentos da esposa, no fim do corredor. Teria ela ouvido alguma coisa? "Sim", respondeu ela, "três pancadas violentas". Tal como contou depois a um investigador de paranormalidade, exatamente na mesma hora, na noite seguinte - às 3,45 horas da manhã -, ele foi despertado por duas batidas na porta, e na noite posterior por uma batida. Por várias noites depois disso, enquanto Kelly estava em viagem de negócios, o silêncio reinou em Ash Manor, mas o horror continuava por perto. Ao recolher-se, na noite de sua chegada, ele sentiu-se estranhamente inquieto. "O frio do quarto era natural", contou depois, "e havia nele alguma coisa de desagradável", Kelly caiu no sono por volta das três da manhã - e logo sua modorra foi interrompida por uma violenta pancada na porta.
"Sentei-me de um salto", lembrou-se. "Parado na porta eu vi um homenzinho meio velho, vestido com uma bata verde, calças e botinas muito enlameadas, um chapei mole na cabeça e um lenço no pescoço. "Para Kelly nada havia de fantasmagórico no intruso, que parecia solidamente humano. Supondo que um vagabundo houvesse entrado na casa, Kelly gritou> "Quem é você? O que quer na minha casa?" Não obtendo resposta, saltou da cama e tentou agarrar o ombro do visitante. A última coisa de que se lembra é que sua mão passou através da figura.
A senhora Kelly, por sua vez, ao contar o caso disse que a essa altura ouviu "um grito aterrador"; e que depois disso seu marido entrou correndo no quarto e desmaiou. "O rosto dele estava lívido, os olhos saltados e o terror estava em todas as linhas de seu semblante", contou ela. Temendo que estivesse à morte, sua primeira ideias foi ir buscar um pouco de bebida medicinal; correu pelo corredor até o quarto onde estava a chave da adega. Quando ia voltando, viu parado na porta do quarto do marido um homem bem baixo. Apesar de Maurice ter desmaiado antes de dizer a ela o que vira, sua descrição do estranho coincidia em todos os pontos com a do marido -e ela acrescentou alguns detalhes.
"O rosto dele era bem vermelho", contou, "os olhos horríveis e malévolos, a boca aberta e babada". Por mais assustador que fosse, Katherine enfrentou-o. "O que quer?", quis saber. "Quem é você?". Tendo o silêncio por resposta, ela tentou acertar-lhe um soco, mas passou através dele e só conseguiu socar o batente da porta.
Nos meses seguintes, os ruídos fantasmáticos noturnos continuaram. Pior ainda, viram o "homem verde" tal como vieram a chamá-lo, umas das duas dúzias de vezes. Certa vez, contou Katherine, a aparição levantou deliberadamente o queixo para mostrar uma ferida escancarada "a toda a volta do pescoço. Uma coisa horrível saia para fora, como uma traqueia cortada". O aflito casal procurou ajuda de um sacerdote, que invocou as bênçãos de Deus sobre a casa. Essa tentativa de exorcizar o terrível fantasma só piorou as coisas. "Por duas noites", contou a senhora Kelly, "fiquei ajoelhada de fora de minha porta, rezando e lutando contra uma força tangível do mal".
Desesperado o Sr. Kelly pôs um anúncio em uma revista, solicitando assistência especializada. O anúncio foi respondido por dois supostos caçadores de fantasmas que teceram um conto inventivo sobre o fantasma de um sapateiro do século XIX que buscava vingar-se de uma leiteira que rejeitara seus avanços.Depois de garantir aos Kelly que não seriam mais molestados, a dupla recebeu seus gordos honorários e foi embora. Mas a assombração de Ash Manor continuou por lá.
Finalmente, em julho de 1936, os apuros dos Kelly chegaram aos ouvidos do doutor Nandor Fodor, um psicanalista com ávido interesse pelo paranormal. Quando começou a investigar os problemas de Ash Manor, Fodor havia sido recentemente nomeado pesquisador chefe do Instituto Internacional de Pesquisas Psiquiátricas, em Londres. Chegando à casa, ele começo a trabalhar de maneira ordenada. Em primeiro lugar inspecionou o local, assegurando-se de que os barulhos não podiam ser causados por defeitos estruturais. Depois entrevistou Kelly, que lhe pareceu ser "um materialista cabeça-dura e teimoso, nem um pouco inclinado para as questões psíquicas". Em seguida, ouviu a história da senhora Kelly e entrevistou a filha, Patrícia.
Em seus preparativos finais, instalou uma câmera fotográfica ao pé da escadaria de Ash Manor, onde, segundo os Kelly, a aparição fora vista com maior frequência.
Fotografar fantasmas era então, e ainda é, um empreendimento de eficácia discutível, mas Fodor estava claramente convencido de que poderia ser bem-sucedido."Com uma lente de quartzo e placas especialmente sensibilizadas", explicou, "a receptividade das partes invisíveis do espectro pode ser aumentada. Desse modo um fantasma, apesar de invisível para nós, pode ser fotografado, contanto que sua imagem apareça dentro do foco e na faixa certa do ultravioleta."
Com seus aparelhos instalados , o doutor começou aquilo que chamaria depois de "vigília fantasmagórica". Em dado momento, durante a noite, ele espantou-se com dois fortes baques vindos do quarto de Patrícia, mas não eram de origem espectral. O que aconteceu foi que a menina, aborrecida por estar confinada em seus aposentos para não atrapalhar a investigação, bateu com o pé no chão. Mais tarde, Fodor ouviu um tenebroso barulho borbulhante - e logo descobriu que a senhora Kelly estava fazendo gargarejos antes de deitar-se. "Só foi dormir às 6,15 horas da manhã", lembrou Fodor. "durante a noite, expus diversas chapas. Nenhuma delas mostrou nada."
Uma segunda vigília de uma noite inteira tampouco teve resultados, mas Fodor perseverou. Por acaso, a famosa médium americana Eileen Garrett estava na Inglaterra na época e respondeu a um pedido de auxílio de Fodor. Na noite de 25 de julho de 1936, sentada diante de uma enorme lareira na casa antiga e sombria, Garrett entrou em transe e, aparentemente, foi logo tomada pela entidade chamada Uvani, que se supunha ser um árabe há muito falecido que frequentemente supervisionava o acesso de outros espíritos à médium. Qual era a explicação, perguntou Fodor, para a assombração de Ash Manor? Nesse momento, Uvani disse que sairia do caminho para que o fantasma invasor tomasse o corpo de Garrett e falasse por si mesmo.
A respiração da médium ficou pesada, o corpo rígido e, segundo o relato de Fodor, suas feições transformaram-se nas de "um homem torturado, com as bochechas murchas, a boca semi-aberta e uma expressão de indizível agonia em todo o semblante". Garrett fez sinal para que Fodor se aproximasse e depois estendeu a mão e agarrou-lhe o braço com tanta força que ele gritou de dor. Em uma voz estrangulada, a médium exclamou: "Eleison! Eleison!, que quer dizer "piedade,piedade". Falando em frases interrompidas e muitas vezes incompreensíveis, aparentemente em inglês arcaico, o suposto espírito pedia para unir-se à esposa. "Suplico-lhe, amigo", disse através da médium, "encontre o lugar de repouso dela. Você é amigo. Encontre-me minha esposa." "A parição, se tal fosse, bradava contra "Buckingham" - presume-se que se referisse a um dos duques ingleses com esse nome. "Ele ofereceu-me ducados e vastos alqueires por minha esposa", contou. "É meu inimigo. Deixou-me apodrecer aqui sem meu filho. Espero notícias de meu filho. Ele me fez isso, aquele bastardo real. (...) Posso sua alma queimar naquele inferno do qual não há escapatória."
Fodor chamou Maurice Kelly, que, olhando para a médium, cambaleou e murmurou: É a exata imagem do fantasma." Então Katherine Kelly aproximou-se e, como lembrou Fodor depois, "ficou da cor do gesso". Cobrindo o rosto com as mãos, ela soluçou. "Meu Deus", e afastou-se da médium. Momentos depois, o espírito pareceu falar de novo, pedindo uma pena. Fodor trouxe papel e caneta e a médium começou a escrever, com uma caligrafia peculiar que, conforme alguns pesquisadores atestaram, não poderia ser dela. "Henley" rabiscou uma escrita diferente da sua. E depois: "Edward Charles". E finalmente: "Esse". Esta última palavra, soube-se depois, fora outrora o nome de uma aldeia perto Ash Manor.
Aparentemente, o nome do fantasma em vida fora Henley e, em resumo, sua história era esta: ele Buckingham eram amigos de infância, mas quando adultos se desentenderam em virtude de Buckingham cobiçar a esposa de Henley, Dorothy. "ele forçou os olhos dela", reclamava o fantasma. O sentido preciso dessa frase não ficou claro, mas parecia querer dizer que Buckingham havia seduzido Dorothy, deixando Henley de tal modo indignado que seu fantasma continuava agarrado à terra, sedento de vingança. "Não me deixe", pregava o espírito a Fodor, "mas ajude-me a obter minha vingança." A vingança, replicou Fodor, deve ser deixada a Deus. "Não me fale de Deus", gritou o fantasma. "Ele me deixou sofrer. Quero minha vingança."
Fodor estava bem familiarizado com a noção, comum a muitos ocultistas, de que o ódio e a vingança estavam entre os motivos mais correntes que mantinham os espíritos ligados à terra. Os fantasmas só podiam libertar-se, dizia a teoria, renunciando a essas paixões. Cm isso em mente, o pesquisador tentou a persuasão. "Você pode ser livre e feliz se desistir de seus pensamentos de vingança que o prenderam à terra", argumentou. "O que deseja: vingar-se ou juntar-se a sua esposa e a seu filho? O espírito vacilou, procurou desviar-se da questão e finalmente decidiu: "Por eles, sim."
"Nesse momento", escreveu Fodor, "alguma coisa pareeu acontecer-lhe. Ele gritou e agarrou de novo minha mão: 'Segure-me, segure-me" Não consigo ficar. Estou escorregando. Não me deixe, não me deixe!". "E o corpo de Eileen Garrett desabou sobre a poltrona. Pelo jeito,o fantasma de Ash Manor havia ido embora.
Mas não por muito tempo. Já na noite seguinte, Kelly, aflito, ligou para Fodor, "Ele está aqui de novo!", exclamou. "Está em pé, parado na porta de entrada, abrindo a boca tentado falar." Fodor foi para o apartamento de Garrett em Londres discutir a reaparição. Mais uma vez, a médium pareceu entrar em transe e seu guia espiritual declarou o que pensava sobre a persistência do espectro. O espírito de Henley nutria-se, disse Uvani, das tenssões existentes no interior da família Kelly. Somente depois que essas tensões fossem aliviadas o espectro iria embora para sempre. Diante dessa afirmação, o aflito casal Kelly contou uma história infeliz: Maurice era homossexual e sua esposa, para aliviar as frustrações sexuais, tornara-se viciada em morfina. Fodor escreveu mais tarde que os Kelly haviam usado o fantasma como "um elemento de distração, uma espécie de tranquilizante, que ajudava a manter a família unida". Apressou-se em acrescentar que nem por isso a aparição era menos real. Fosse como fosse, a conclusão pareceu aliviar as coisas. Quaisquer que fossem suas origens e sua natureza, qualquer que fosse o combustível emocional que o alimentava - suas próprias paixões infelizes ou as dos outros -, o fantasma de Ash Manor nuca mais foi visto.
Há céticos que hesitariam em descartar o caso Ash Manor, quando mais não fosse por ter em Nandor Fodor seu principal relator, pois ele não era o mais confiável dos caçadores de fantasmas. Parecia ter ânsia de acreditar nos fantasmas que procurava, tornando sua objetividade questionável. Apesar disso, seu passatempo de caçador de espectros incluía-o em uma categoria especial e muito mal interpretada. . Era raro que a principal missão dos pesquisadores da paranormalidade fosse"sossegar o fantasma", que é como eles se referem ao ato de desencantar um espírito. Mais do que isso, livrar residências de espectros que assombram - quando isso acontece - é apenas um subproduto de sua tentativa de determinar a realidade de um mundo espectral e, presumindo que é real, estudar sua natureza. Desde que os fantasmas começaram a assombrara consciência humana, os seres humanos de certo modo assombram os fantasmas, tentando incansavelmente descobrir se eles são de fato espectro de além-túmulo ou meros eflúvios de percepções e paixões distorcidas dos vivos.
na busca de respostas, os caçadores de fantasmas desenvolveram uma variedade de técnicas. De vez em quando, um método particular esteve na moda e foi abandonado, sendo adotado novamente à luz de novas experiências. Os médiuns,por exemplo, foram por muitos anos considerados como os melhores canais para a comunicação com os espíritos dos mortos. Por volta de meados do século XX, porém, o estudos dos fenômenos paranormais, que sempre esteve estreitamente ligado ao estudo dos fantasmas, mudou em grande parte das salas de sessão para os laboratórios e salas de aula, por influência do pesquisador Joseph Banks Rhine, da Universidade Duke. Ele buscava apoio no método científico, não no espiritismo, e suas experiências produziram provas que os parapsicólogos acreditam significativas de percepção extra-sensorial.
Mas a questão de saber se talentos como a telepatia e a clarividência - no caso de existirem - figuram na comunicação com os mortos nunca foi a principal preocupação de Rhine e seus colegas, e ficou sem respostas. Nos anos mais recentes, alguns críticos encontraram falhas na metodologia de Rhine; houve pesquisadores que voltaram a recorrer aos consagrados intermediários. Os médiuns recuperaram sua função, embora a tendência moderna seja a de avaliá-los com o auxílio de todos os instrumentos sensíveis de detecção que a tecnologia moderna possa proporcionar.
Seja qual for o sistema usado pelo pesquisador, sua busca será com certeza cheia de obstáculos. Frequentemente as assombrações desaparecem por longos períodos, e às vezes o caçador espera semanas até que o suposto fantasma se manifeste. Enquanto isso, a vida dos moradores da casa que se considera assombrada é seriamente perturbada pela presença do caçador com seu equipamento. Eventualmente, essas famílias chegam a achar que o fantasma é menos incômodo do que o humano que está em seu encalço. Além disso, é raro que os espectros colaborem com os caçadores. Alguns pesquisadores acreditam que a mera presença de um deles pode fazer um fantasma ficar meses sem aparecer.
Mesmo nas ocasiões pouco frequentes em que um pesquisador da paranormalidade acredita estar de fato em contato com um espírito assombrador, precisa ter cautela em aceitar sem restrições o que este diz - mesmo que seja só porque, como disse o escritor e jornalista G. K. Chesterton, os fantasmas mentem. E os seres humanos também, infelizmente; ao empreender uma investigação, é essencial que o caçador de fantasmas verifique se a suposta assombração não poderia ser explicada em termos de embuste, fraude, histeria ou outras ações de natureza terrena.
Segundo Andrew Mackenzie, importante autoridade em assombrações, "deve ser procurada uma explicação normal para a experiência, antes de aceitarmos uma hipótese paranormal". Devotado defensor dessa doutrina, o pesquisador inglês G. W. Lambert publicou em 1960 os resultados de uma extenso estudo da correlação entre os edifícios supostamente assombrados de Londres e sua proximidade com cursos d'água sujeitos aos efeitos da maré que houvessem sido "cobertos por construções ou ocultos da visão de um modo ou de outro".
Nos 25 casos descritos por Lambert no Journal of the Society for Psychical Recerch, não menos de vinte estavam situados sobre um curso subterrâneo, ou nas vizinhanças de um. Lambert descobriu uma significativa relação entre as assombrações relatadas e os períodos em que a precipitação atmosférica em Londres anormalmente pesada. A teoria de Lambert: imensas pressões hidráulicas acumuladas por chuvas excessivas podem , com efeito, erguer um prédio, fazendo com que este se incline. Quando a pressão diminui, a estrutura volta subitamente a seu lugar, provocando fortes ruídos e até mesmo o deslocamento de objetos, fenômenos muitas vezes associados a assombrações e poltergeist.
Um ano antes, Lmbert publica um estudo sobre cinquenta locais escoceses onde acontecimentos paranormais haviam sido relatados. Dezenove estavam na região calcária em torno de Firth Of Forth, onde abundam as correntes subterrâneas. Entre os demais, apenas três não estavam nas vizinhanças de falhas geológicas, onde eram comuns os tremores e abalos sísmicos. Lambert descobriu que todos os eventos fantasmagóricos haviam ocorrido em períodos de alta atividade sísmica. "O que se afirma aqui", escreveu, "é que um tranco transmitido a uma casa a partir do subsolo (...) pode difundir-se pela estrutura da construção atingindo objetos soltos nos cômodos,que podem 'voar', sem provocar dano na casa, se as fundações forem sólidas." Nem é preciso acrescentar que os tremores de terra podem causar ruídos estranhos. Nisso pode estar pelo menos parte da solução para um dos mistérios mais desconcertantes da história dos fenômenos paranormais - as assombrações de Ballechin House.
Outro estudioso incontestável foi o Sr. William Crookes. Nascido em Londres, em Regent Stret, a 17 de junho de 1882, foi o primeiro cientista de alto gabarito que, na Europa, com surpreendente desassombro e admirável coragem, estudou com severas e incomuns precauções científicas, o fenômeno mediúnico, concluindo sem vacilações ou receios, com esta memorável profissão de fé raciocinada: "O espiritismo está cientificamente demonstrado e seria covardia moral negar-lhe o meu testemunho."
Para apresentação desse nome venerando, verdadeiro missionário da ciência, demos a palavra ao insigne e insuspeito doutor Josef Lapponi, escritor, clínico, professor de Antropologia, protomédico de dois Papas (leão XIII e Pio X), que, em estudo médico-crítico publicado sob o títulos de "Hipnotismo e Espiritismo" desfazendo as agressões com que pretendiam enodoar a reputação científica de Crookes, declara, do alto de sua cátedra, com corajosa lealdade: "Físico igual aos maiores do mundo inteiro; que, aos vinte anos de idade, já havia apresentado importante trabalho sobre a polarização da luz; que, mais tarde, publicou trabalhos magníficos sobre espectros luminosos dos copos celestes; que inventou o fotômetro de polarização e o micro-spectroscópio; que escreveu obras notáveis sobre a química, e, especialmente, um trabalho de análise que se tornou clássico; que fez descobertas preciosas em astronomia e que contribuiu, grandemente, para o progresso da fotografia celeste; que foi enviado pelo Governo inglês a Oran para estudar um eclipse do Sol; que descobriu um novo metal, o "talium", e que,enfim, revelando à ciência o estado radiante da matéria, entrevistado por Faraday, abriu caminho para a descoberta dos raios Roentgen, que se emprega para fotografar o invisível a olho nú."
"Esse homem, de inteligência tão alta e de ciência tão vasta, que passou sua vida a interrogar, com vigor extremo, os segredos da Natureza, foi quem submeteu a exame minucioso os fenômenos espíritas sob crítica severa da experimentação moderna, assistido, nessas pesquisas, de dois outros físicos de valor, William Huggins e Edmundo W. Cox."
Com auxílio de instrumentos de precisão e de registradores automáticos, Crookes examinou, nos seus mínimos detalhes, os fenômenos produzidos sob os seus olhos. Ele experimentou, alternativamente, nas trevas e em pleno dia; fora e dentro das salas por ele escolhidas, à luz elétrica e à luz fosfórica". E, assim, conclui o Dr. Lapponi: "Ora, depois de ter estudado os fenômenos espíritas, através de todo esse aparelhamento de precauções e com o maior ceticismo científico, Crookes se viu obrigado a repetir, lealmente, o que, antes dele, Alfred Russel Wallace, o inventor da célebre hipótese da seleção natural, já havia dito: "Adquiri a prova certa da realidade dos fenômenos espirituais."
Charles Richet, Prêmio Nobel de Fisiologia, em conferência pronunciada na Faculdade de Medicina de Paris, em 24 de junho de 1925, com sua inconteste erespeitável autoridade, perante severo auditório, classificando William Crookes, textualmente, como "um dos maiores ábios do nsso tempo e de todos os tempos", assim se referiu à suas célebres experiências e sua obra científica ("Ciência Metapsíquica").
"Croos viu, em plena luz, mesas e cadeiras se deslocarem, flores aparecerem e se moverem, um acordeão passar sobre a sua cabeça e tocar; ruídos retumbantes se produzirem, diante de sábios honestos experimentados."
"Crookes viu Florence Cook (a médium) desdobrar-se em um fantasma; observou com o auxílio de uma lâmpada de fósforo, em seu próprio laboratório,e por muitas vezes, o fantasma de Katie King conversando com Florence."
"Como se explica esses fatos não tenham sido admitidos, e que se tenha inventado, para explicá-los, toda a sorte de inépcia calunioso? Certo é porque os homens e os sábios, talvez, ainda mais que todos, têm medo das coisas novas." Informações extraídas do Reformador.
No início da noite de 3 de fevereiro de 1897, Ada Goodreich, uma mulher de etérea beleza,e sua companheira Constance Moore, filha do capelão da rainha Vitória, atravessaram pela neve profunda até a porta de Bellechin Hauze, nas remotas Highlands escocesas, acima do escuro vale do rio Tay. Antes mesmo de entrar no recinto, Freer foi tomada por um sentimento de medo. "A casa parecia muito lúgubre", escreveu mais tarde, "lá dentro, parecia uma tumba." Para Freer, envida como pesquisadora da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, Ballehin House era rica no tipo de histórias pelas quais ela se sentia fortemente atraída.
Construída em 1806 nas terras hereditárias da família Steuart, descendente do rei Roberto II da Escócia, Ballechin House pertencia, por volta de1850, ao major Robert Steuart, , funcionário aposentado da Companhia das Índias Orientais. Sob qualquer ponto de vista, Steuart era um tipo peculiar. Solteiro e misantropo, povoou a casa com quatorze cães, entre os quais um grande spaniel negro que era seu predileto. Durante sua estadia na Índia, o major passara a acreditar na trans-migração das almas, e gostava de declarar que após sua morte ele voltaria para a terra no corpo do spaniel negro. A única companhia humana de Steuart era sua governanta, uma jovem chamada Sara, que morreu em 1873 em circunstâncias descritas na região como misteriosas. As línguas da vizinhança ficaram frenéticas quando se soube que ela falecera no quarto de Steuart, e mais ainda quando, após a morte dele em 1876, seu testamento decretou que eu corpo deveria ser enterrado ao lado de Sarah.
Para os herdeiros de Steuart, a prometida transmigração de seu excêntrico, desagradável e ligeiramente mal afamado parente era sem dúvida uma eventualidade inoportuna; como medida preventiva, mataram todos seus cães - começando pelo spaniel negro. O herdeiro de Bellechin House era John Steuart, um sobrinho católico devoto, que logo reformou uma pequena casa na propriedade para servir como retiro para freiras.
As assombrações começaram logo depois que John Steuart se mudou com a família para a casa. Certo dia, trabalhando em suas contas domésticas, a senhora Steuart sentiu um cheiro difuso de cães, que conhecia do tempo em que eles enchiam a casa do velho major. Quando foi abrir a janela, sentiu roças suas pernas uma presença que, de algum modo, ela soube ser o de um cão.
Nos anos seguintes, os residentes de Ballechin House contaram ter sido perturbados por ruídos noturnos - batidas inexplicáveis, ruídos secos, explosivos, e até mesmo vozes raivosas de pessoas que pareciam estar brigando, embora as palavras fossem irreconhecíveis. Especialmente assustador era o nítido barulho de passos de alguém - ou alguma coisa - mancando no quarto em que Sarah havia morrido. O major Robert Steuart voltara da Índia mancando fortemente.
No verão de 1892, um padre jesuíta chamado Hayden chegou a Ballechin House para cuidar das necessidades espirituais das freiras do retiro. Em oito das nove noites que passou na casa, contou, foi perturbado por "ruídos muito estranhos e extraordinários". De algum lugar entre a cama dele e o teto vinham sons "como contínuas explosões de petardos" (bombas). De tempos em tempos ele ouvia algo que lhe lembrava "um animal grande arremessando-se contra a porta", mas, quando examinava o corredor,não havia nada. "Nada", escreveu depois o sacerdote, "poderia induzir-me a passar a noite lá (...) e em outros aspectos não acho que eu seja um covarde."
Três anos depois, durante uma visita a Londres, John Steuart foi atropelado e morto por um fiacre (carruagem de um só cavalo). Com ele morto, Ballechin foi assumida por outro Steuart, um capitão do exército que não tinha o menor desejo de morar lá. Em vez disso arrendou a propriedade para uma família abastada que pagou um ano adiantado pelo privilégio duvidoso de ficar na casa e caçar galos selvagens nas extensas terras. Mas após sete semanas de residência, repletas de aterrorizantes ruídos noturnos, os novos inquilinos fugiram sem nem ao menos reivindicar um reembolso pelo que restava do contato.
Para John Crichton Steuart, terceiro marquês de Bute e entusiasta da paranormalidade, a disponibilidade imprevista de Ballechin House era uma oportunidade que ele esperava há muito. Tendo ouvido falar da tradição fantasmagórica da casa vários anos antes pelo padre Hayden, Bute decidiu promover uma investigação completa. Consegui apoio da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, que designou dois de seus pesquisadores para o caso - o coronel Lemesurier Taylor, um pesquisador veterano, Ada Goodrich Freer. Bute pagou para que Taylor arrendasse Ballechin House, mas não pode viajar para lá imediatamente por causa de negócios de família.
Freer chegou à casa com uma companhia, antes de um grande grupo de hóspedes que ela havia escolhido justamente com Taylor, em parte por pessoas que não sabiam do passado sinistro da mansão, e em parte porque todos eram considerados sensíveis às ocorrências fantasmagóricas, ou tinham o espírito aberto acerca desse assunto.
Em geral os caçadores de fantasmas precisam resignar-se a esperar semanas ou meses antes que os fantasmas de plantão se dignem a apresentar-se. Mas não Ada Feer. Segundo o livro de 250 página que ela escreveu mais tarde sobre o caso, ela foi acordada na primeira noite por "um forte clangor (barulho) que parecia ressoar por toda a casa". Um pouco depois, Freer e sua amiga Constance Moore ouviram vozes; na noite seguinte, ficaram estarrecidas ao ouvir uma voz que parecia a de um padre rezando missa. (Este, soube-se depois, era um dos fenômenos mais comuns em Ballechin House.)
Na terceira noite, Freer e seus hóspedes consultaram uma tábua Ouija, cuja prancheta no mesmo instante soletrou a mensagem de um espírito que chamava a si mesmo de Ishbel; ele dizia para os humanos irem, no crepúsculo, "até a ravina na avenida, no alto, perto dor riacho". Logo após o por do sol, no dia seguinte, Freer foi até o local indicado, com dois acompanhantes homens. "Estava bem escuro", escreveu ela, "mas a neve estava de um branco tão brilhante que dava para enxergar o caminho (...). Avistei uma pequena figura de negro, uma mulher, subindo devagar pela ravina. Ela parou e olhou para mim. Estava vestida como uma freira." Uma das irmãs do major Robet Steuart, Isabela, havia sido freira até morrer, em 1880.
Posteriormente, disse Freer, ela viu o fantasma da freira diversas vezes; em algumas ocasiões ela estava conversando com uma mulher mais idosa, que dava a impressão de estar ralhando com ela. Uma vez, relatou Freer, a freira parecia estar "mergulhada em um choro que eu sentia arrebatado e sem reservas". O interessante, contudo, é que nenhum dos dois homens que acompanharam Freer em sua primeira visita ao riacho foi capaz de ver a freira espectral. E embora diversos hóspedes tenham depois alegado ver vários espectros, inclusive o da freira, o testemunho deles não convenceu nem mesmo Freer.
De qualquer forma, em Ballechin House havia fenômenos suficientes para satisfazer o mais voraz caçador de fantasmas. Nos 69 dias em que Freer e sua companhia ocuparam a casa, sons extraordinários foram relatados em 92 ocasiões distintas. Entre os ruídos havia gemidos, grunhidos, batidas, clangores, baques e sons explosivos, juntamente com os barulhos do manco, do padre lendo, de animais em movimento e de passos arrastados de alguém que se presumia ser um homem idoso. Quatro pessoas, inclusive Freer e uma criada, disseram ter sido tocadas por presenças invisíveis. A sensação mais comum era a de ter a cama levantada ou balançada, ou de alguma coisa puxando a roupa da cama. Tanto Freer como Constance Moore afirmam ter sido empurradas por um cão grande e invisível, e uma hóspede afirmou ter chegado a lutar com uma presença fantasmagórica invisível.
De todos os fenômenos, porém, os mais excitantes para um pesquisador da paranormalidade são os visuais, e Bellechin House abrigava um caleidoscópio de fantasmas. Além da freira e sua companheira, Freer viu uma mulher segurando um crucifixo. Uma criada testemunhou a aparição noturna d metade superior de uma velha. Relatou-se também a aparição de uma pessoa que ainda estava viva, mas bem longe dali - o padre Hayden, que cinco anos antes ficara tão alarmado com os barulhos noturnos. Finalmente, pouco antes do final da investigação, Freer foi acordada por ganidos aterrorizados de seu cão, um pomeraner chamado Spooks. Sentando-se na cama, viu "duas patas negras {que não era do Spook} apoiadas sobre a mesa ao lado da cama. Isso me deu uma sensação nauseante".
Contando tudo, parecia que Bellechin House e os terrenos em volta estavam assombrados, visível ou invisivelmente, por pelo menos nove espíritos; a freira Ishbel (ou Isabella) e sua companheira mais velha (talvez Margaret, outra irmã do velho major Robert Steutart); o homem que arrastava os pés, a velha com meio corpo, a mulher com o crucifixo, um padre morto e outro vivo, e um cão negro.
Ada Freer e seus hóspedes deixaram Ballechin House em maio de 1897. Depois disso, tanto quanto se sabe, o lugar ficou tranquilo até ser finalmente demolido em 1963. Pelo jeito, os fantasmas haviam ido embora.
Mas seráque eles de fato existiram? Embora já se soubesse, na época da investigação de Freer,que os sons associados aos espíritos poderiam ser explicados em termos de causas naturais como cursos d'água subterrâneos ou tremores de terra, a pesquisa de Lambert recolocou essa possibilidade no caso de Ballechin House. O velho edifício, observou ele, estava perto de lugares onde dois riachos entram no subsolo, e um dos meses mais chuvosos da história da Inglaterra ocorreu durante a investigação. Além disso, as terras dos Steuart situavam-se nas vizinhanças da grande falha geológica que corre para o sudoeste através da Escócia, a partir de Stonehavem, região na qual foram registrados 465 abalos em um período de 38 anos. Mas este estudo de Lambert não é conclusivo e é contestados por muito estudiosos.
As causas naturais o podem ser responsabilizadas pelos fenômenos sonoros em Ballechin House, as manifestações táteis e visuais representavam um problema mais complexo. Ada Freer tinha uma ampla reputação de ser altamente sensível às experiências paranormais, reais ou imaginárias; seus sentidos já estavam excitados mesmo antes de ela pôr os pés em Ballechin House, e não há razões para se supor que ela tenha ficado mais calma depois de entrar na casa. Com efeito, até o colega de Freer na investigação, Lemesurier Taylor, desprezou a freira fantasmagórica dela, por ser singularmente carente de "valor de evidência."
Os caçadores de fantasmas amadores que vieram com Freer não só chegaram com expectativas de encontrar provas da existência dos espectros como ainda pareciam ansiosos por isso. Uma das hóspedes, por exemplo, contou ter ficado "acordada até tarde perto do fogo esperando, mas, como parecia que nada ia acontecer, fui para a cama, e logo adormeci". Pouco tempo depois, porém, foi acordada pelo que achou ser uma sacudidela na cama. Contudo,ela evitou "acender a luz, para ver como se desenvolvia aquela estranha experiência. Para meu desapontamento, não aconteceu nada" Em resumo, como disse um visitante, pelo menos alguns dos ocupantes de Ballechin House estavam sedentos de prodígios". É com certeza possível que tenham visto - ou acreditado ver - aquilo que queriam ver.
Se a susceptibilidade humana à sugestão ajudou a criar os fantasmas em Bllechin House, isso levanta a questão de seu papel em outros relatos de fenômenos fantasmagóricos - relatos esses que não são de modo algum incomuns. Um levantamento feito em 1984 pelo Centro Nacional de Pesquisa de Opinião da Universidade de Chicago mostrou que 42 por cento de todos os americanos disseram ter tido algum tipo de contato com alguém que havia morrido; uma pesquisa feita em 1987 pelo Epcot Center concluiu que 13 por cento alegavam ter visto um fantasma.
Em 1964, uma oportunidade de explorar o potencial da sugestão foi proporcionada por um programa de meia hora na televisão inglesa chamado "O desconhecido". Para fazer o file, os produtores pediram a A. D. Cornell, membro da SPR, para demonstrar a maneira pela qual um pesquisador da paranormalidade competente procede em suas pesquisas. A locação do filme era em Morley Hall, uma mansão do século XVI em Norfolk. Embora o lugar não tivesse a reputação de ser assombrado, seu interior escuro e lúgubre parecia um abrigo provável de coisas do outro mundo.
Durante uma noite inteira, Cornell seguiu seu procedimento padrão, entrevistando o dono da casa, inspecionando o local, instalando seus aparelhos de detecção e - como sempre - esperando no escuro que aparecesse um espírito. Na manhã seguinte foi entrevistado,do lado de fora da casa, pelo apresentador do programa. Por acaso ele havia encontrado alguma coisa anormal? Não, respondeu Cornel. E ele achava que Morley Hall estava assombrada? Não, com certeza não.
Depois que o programa foi ao ar, contudo, cinco espectadores ligaram para dizer que haviam visto a figura fantasmagórica de um monge parada ao lado de Cornel durante a entrevista. Espantados, membros da equipe do programa examinaram o filme com atenção e nada notaram fora do comum. A título de e experiência, a entrevista foi veiculada mais duas vezes . Sem dar mais detalhes, um locutor disse que algumas pessoas haviam "relatado ter visto um fantasma no filme".
Agora, estimulados pela sugestão de que um fantasma poderia estar presente, 27 espectadores responderam. Quinze disseram ter visto o monge ou padre. Dez outros repetiram mais ou menos essa descrição; um descreveu uma senhora com uma mantinha e outro um crânio encapuzado. Sete, porém, foram céticos o bastante para atribuir a forma espectral no filme a um truque de iluminação ou alguma ilusão de ótica -e tinham razão. Procurando com mais atenção nos ampliados do filme, os produtores do programa finalmente encontraram uma imagem, vagamente parecida com a de um monge, causada pela descoloração no batente de pedra de uma janela com caixilhos diante da qual Cornell fora entrevistado.
Seja lá como for, a maioria dos telespectadores que responderam estava convencida de ter realmente visto alguma coisa de sobrenatural. Considerando o efeito ruidoso que essas pessoas impressionáveis podem ter sobre a pesquisa, Cornell declarou: "Somos levados a sonhar (mas não com muita esperança) com algum tipo de invento capaz de 'peneirar' e de permitir-nos excluir as testemunhas de uma aparição que sejam passíveis de sofrer ilusões assim tão extremas."
Cornell, porém, acreditava também que a ideia da sugestão como explicação para os fantasmas podia ser levada longe demais. A maioria das pessoas, argumentou, não é assim tão influenciável. Para provar sua tese, ele aplicou uma série de testes. No primeiro, que começou às 22,30 horas de 26 de maio de1960, ele próprio se envolveu em quatro metros de tecido branco. Durante sete minutos, enquanto seus assistentes se ocultavam em moitas para tranquilizar quaisquer passantes que pudessem se assustar com a visão de um fantasma, Cornell ficou encostado em uma árvore do pátio da igreja de Saint Peter, em Cambridge, vizinho a um cemitério e a apenas três metros da rua principal daquela cidade universitária. Nos cinco minutos seguintes ele ficou vagando por ali, às vezes na sombra, às vezes sob as brilhantes luzes da rua. Depois, ficou rodando em torno da árvore por mais três minutos, antes de encerrar o experimento com uma caminhada de cinco minutos, durante a qual ele completou a atuação com alguns gemidos e sons que considerou fantasmagóricos.
Durante a apresentação de vinte minutos, o "fantasma" de Cornell foi perfeitamente visível para noventa veículos que por ali passaram, quarenta ciclistas e doze pedestres - mas só dois concederam à imitação de aparição uma atenção mais que passageira. Uma testemunha - um rapaz - parou, olhou, perguntou ao espírito o que ele achava que estava fazendo e, não recebendo resposta, continuou caminhando ao lado dele. A essa altura, um assistente de Cornel saiu de seu esconderijo, explicou-lhe a natureza do experimento e perguntou-lhe o que havia visto. Resposta da testemunha: "Um estudante de arte andando por aí embrulhado em um lençol".
Poucos minutos depois, um estudante desceu de sua bicicleta e ficou olhando para o pesquisador envolto em lençóis. Quando lhe perguntaram o que pensava estar vendo ele respondeu: " Um homem vestido de mulher, que com certeza deve ser louco".
A despeito de seu interesse pelos possíveis efeitos da sugestão, os pesquisadores da para normalidade tomam cuidado para distinguir entre a susceptibilidade à sugestão e a sensibilidade. A sensibilidade é um talento possuído pelos médiuns genuínos - pessoas que parecem ter acesso especial a mundos invisíveis para outros seres humanos. Aparentemente, uma pessoa dessas foi a vidente de Prevorst, nascida nessa cidade da Suábia. O nome verdadeiro dela era Friederike Hauffe, e seu caso foi registrado pelo doutor Justinus A. C. Kerner, chamado em 1826 para tratá-la de uma doença misteriosa que deixava às portas da morte. Kerner encontrou uma mulher sem dentes, feia e acabada, que surpreendentemente vinha caindo em transes mediúnicos desde a infância, tinha visões e falava com os espíritos dos mortos. Quando Kerner a conheceu, Hauffe estava, ente outras coisas, intimamente associada a um poltergeist que arrastava correntes, atirava pedras, deslocava banquinhos e abajures e arrancava as botas da doente quando ela estava na cama.
Kerner no início duvidou, mas logo se convenceu de seus incríveis poderes. Segundo seu relato, ela traçava figuras geométricas meticulosas, inclusive círculos, em alta velocidade e no escuro. Ainda mais espantoso: deitada na cama, ela lia com facilidade os textos que Kerner colocava sobre a barriga dela. Além disso, afirmou Kerner, Hauffe usava às vezes seus talentos especiais para extirpar fantasmas. Após ouvir dizer que uma casa das redondezas estava sendo assombrada pelo espírito de um velho, o pesquisador trouxe um de seus moradores para a vidente. Ela caiu em transe profundo, durante o qual explicou que um burgomestre do passado tinha se transformado em um "espírito preso à terra" por ter, durante a vida, lesado dois órfãos. Verificando os registros, Kerner descobriu que em 1700 um certo Bellon fora de fato burgomestre, bem como diretor de um orfanato. Diante das "provas" de Hauffe, contou Kerner, o fantasma confessou sua culpa e desapareceu.
Para tratar da enfermidade que ameaçava a vida de Hauffe, Kerner escolheu o mesmerismo (hipnotismo, magnetismo), prática que estava então na moda e que consistia em passar magnetos pelo corpo, em um esforço para estimular o fluxo de certos "fluídos vitais" teoricamente essenciais à boa saúde. Em um primeiro momento, Hauffe pareceu reagir favoravelmente. Mais tarde, contudo, ela começou a ficar cada vez mais fraca. Kerner teorizou que as energias dela estavam sendo usadas pelos espíritos que a rodeavam. Em 1829, Friederike Hauffe morreu. Tinha apenas 28 anos.
Duas décadas depois, a idade de ouro do espiritismo, movimento cuja marca registrada eram os médiuns que alegavam comunicar-se com os mortos, começou quando duas irmãs adolescentes do norte do estado de Nova York atraíram uma enorme atenção pública com sua aparente capacidade de falar com espíritos. As irmãs, KJate e Maggie Fox, acabaram sendo desmascaradas, mas a onda espírita durou até bem tarde no século XX, quando uma inundação de vigaristas e charlatães liquidou a reputação do movimento. Uma das médiuns que conservou sua reputação mais ou menos intacta foi Eileen Garrett, que ajudou a tirar a mediunidade do pântano de vigarice e embuste em que estava afundada e guiá-la para sua moderna associação com a parapsicologia.
Segundo sua autobiografia, Garrett, nascida na Irlanda, experimentou episódios telepáticos e clarividentes desde a infância. Ela recebia toda uma pletora de guias espirituais, mas, ao contrário da maioria dos médiuns, nada de especial afirmava acerca das origens ou da autenticidade destes. Na verdade, ela teorizava que seus contatos com o outro mundo podiam muito bem não ser mais do que fragmentos submersos de sua própria personalidade. Garrett era até um pouco desconfiada de seus talentos paranormais, concluindo que eram "perigosos, a menos que fossem usados para ajudar as pessoas". Talvez em virtude de suas dúvidas, ela era incansável na busca de explicações para a experiência mediúnica. Pôs-se à disposição de diversos parapsicólogos para ser estudada e, em 1951, fundou a Sociedade de Parapsicologia, com sede em Nova York, para fornecer fundos para a pesquisa científica e erudita do desconhecido. "Se todos o estranho e mistificante dom psíquico pudesse ser arrancado da escuridão das salas de sessão e posto nas mãos capazes e inquisitivas da ciência", disse ela, "todos se sentiriam muito melhor acerca do tema". Quando morreu em 1970, aos 77 anos de idade, Garrett foi quase unanimemente chorada e aclamada por seus colegas pesquisadores, mesmo pelos que duvidavam - como ela mesma, muitas vezes - que ela houvesse de fato tido qualquer contato com espíritos dos mortos.
Durante sua longa carreira, Garrett ficou às vezes desanimada com seu próprio trabalho. "Todas nossas investigações foram inconclusivas", disse ela uma vez. "Tomei parte de tantos experimentos e trabalhei com tantos pesquisadores que fico pensando se não estariam todos rodando em círculos sem ir a parte alguma. Ela não deixava de ter suas razões: Os históricos dos acontecimentos paranormais raramente tinham finais claros e ordenados - como atesta a experiência da própria Garrett em Rose Hall, na Jamaica que certa vez foi chamada de "a casa mais assombrada do hemisfério ocidental".
Em 1952,quando Garrett e um grupo de amigos foram passar as férias de inverno na Jamaica. Hall estava em ruínas, mas sua intensa reputação maligna não diminuia com o tempo. Debruçada no alto de uma sobre a vastidão azul das águas da baia Montego, a mansão do século XVII for recebida em herança por um certo John Rose Palmer, em 1818. Foi para lá que ele levou sua noiva de 18 anos de idade, Annie, em 1820. Ela era meio inglesa e meio irlandesa e, segundo a lenda, de uma beleza de tirar o fôlego. O casamento dos dois, porém,estava longe de oferecer material para um idílico romance em uma ilha. John, aparentemente, era um alcoólatra valentão. E Annie era selvagem e promíscua, profundamente marcada por um caráter cruel e violento, que só piorava com o transcorrer do tempo. Dizia-se que ela praticava a magia negra do vudu, que lhe fora ensinada por uma sacerdotisa nativa do Haiti, onde ela passará a infância.
Segundo a tradição local, a jovem senhora de Rose Hall tomou um belo escravo como amante. Quando John a interrogou sobre essa ligação, ela envenenou-o. E, enquanto ele agonizava, ela provocava-o com sua infidelidade e ordenou ao amante que apressasse o passamento do marido sufocando-o com um travesseiro. Quando John estava inteiramente morto, os assassinos esconderam o cadáver - pelo jeito com grande eficácia, posto que nunca foi encontrado. Logo após o assassinato, Annie livrou-se da única testemunha, fazendo com que fosse chicoteado até a morte por outros escravos.
Depois disso, Annie governou a propriedade com selvageria. Dois outros maridos vieram e se foram - mortos pela senhora de Rose Hall, segundo se dizia, No entanto, parece que os maridos eram uma válvula de escape insuficiente para a crueldade de Annie. Ela gostava de explorar suas vastas propriedades em cavalgadas noturnas. Durante essas excursões, vestida de homem e armada de um chicote, ela fustigava impiedosamente qualquer escravo que tivesse se atrevido a aventurar-se fora do alojamento após o escurecer.
Naturalmente, os escravos odiavam e temiam sua senhora. Conta-se que a criada pessoal de Annie tentou envenená-la e a patroa conseguiu fazer com que fosse condenada e executada. A seguir, Annie exigiu que as autoridades lhe entregassem a cabeça cortada da jovem. Pingando sangue ainda, a cabeça foi levada em uma cesta a Rose Hall, onde, no alto de uma vara de bambu,ficou apodrecendo até restar apenas o crânio branco brilhando sob o ardente sol jamaicano.
Em 1833, Annie Palmer foi assassinada, aparentemente por seu mais recente amante, que podia muito bem estar tomando medidas preventivas contra sua própria execução. Qualquer que fosse a razão, os escravos encontraram o cadáver estrangulado e mutilado no quarto dela. Atearam fogo à cama e depois recusaram-se a cavar-lhe um túmulo. Finalmente, os vizinhos brancos ordenaram que seus próprios escravos enterrassem a mulher, não no cemitério de Saint James Parish, mas sob meio metro de sólida alvenaria, no jardim de Rose Hall. Parece que seus pares achavam que não havia espaço para Annie no terreno consagrado, e que o cimento talvez inibisse a sobrevivência de sua natureza perversa. Morta sua infernal senhora, Rose Hall foi se deteriorando aos poucos. Os habitantes da região juravam que ela continuava a vagar pelas ruínas, que agora dividia com morcegos, corujas e aranhas.
Para Eillen Garrett, a lenda Rose Hall era uma atração tentadora. E embora a médium houvesse visitado o local como turista, e não como vidente ou pesquisadora de paranormalidade, sua passagem por lá teve certas repercussões. "Mesmo antes de entrar na casa, fui tomada por impressões clarividentes",escreveu Garrett mais tarde. Ao lado dela,sua secretária tomava notas enquanto a médium descrevia as imagens que lhe invadiam a mente. Falou de uma mulher que não era "nem de perto tão atraente quanto dizem. Parece-me quase cinquenta anos .(...) Tem-se a impressão de cabelos negros e olhos azuis muito brilhantes e ardentes.(...) O primeiro marido dela era estranho, sádico, cruel. (...) Ela afirma ter pago caro demais por este lugar que era dela. (...) Volta para que ninguém possa morar aqui. Não tem arrependimento".
Com o apetite estimulado pelo aparente contato de Garrett com Annie, a médium e seus amigos voltaram a Rose Hall na noite seguinte. Ao sair de um túnel que passava por baixo das ruínas, Garrett começou a andar cada vez mais rápido e depois caiu no sono gemendo e pareceu entrar em outro transe. Falando com uma voz de mulher que em nada parecia com a dela, implorou: "Por favor, por favor, por favor." Procurando consolá-la,um membro do grupo disse: "Em nome de Deus, nada há a temer." A resposta não foi coerente. Em vez disso, Garrett - ou seria Annie Palmer? - rolou pelo chão, grunhindo , rindo e cantando e suplicou aos presentes que orassem por ela.
Garrett voltou mais duas vezes a Rose Hall. Certa vez, durante um episódio de aparente clarividência, ela viu Annie Palmer morrendo "de noite, devagar, dolorosamente. Depois vejo uma espécie de luz cinzenta. Talvez seja a luz da manhã. E vejo alguém que deve ter-se sentido culpado, levantando-a". Então, através de Garrett, o suposto espírito de Annie fez um voto terrível: "Que ninguém pense que este é meu fim. Meus gritos viverão, e os que procurarem herdar terão sobre si uma maldição." E isto foi tudo. Apesar da maldição, o fantasma de Annie nunca mais foi visto depois da visita de Garrett. Teria a médium "sossegado o fantasma? Havia mesmo um fantasma? Não existe qualquer prova de uma coisa ou de outra, mas diz-se que Rose Hall ganhou a tranquilidade depois que os espíritos viraram uma lembrança. Deixando de ser amedrontadora, a velha casa de Annie Palmer foi plenamente restaurada, recuperando sua antiga beleza.
Eileen Garrett fi apenas uma de vários médiuns usados como verdadeiras cobaias de laboratório durante os anos em que Joseph Rhine, da Universidade Duke, dominou o campo das pesquisas de paranormalidade. Sob a égide dele, esses médiuns esforçaram-se para influenciar os resultados do jogo de dados, ou para identificar símbolos em cartões ocultos de suas visitas. Para o verdadeiro caçador de fantasmas, porém, tais esforços eram um exercício estéril. Nos anos sessenta, os pesquisadores estavam aplicando as técnicas aprendidas no laboratório e voltando para o trabalho de campo - tentando apanhar os fantasmas onde estes vivessem, por assim dizer, em vez de juntar os fatos com base apenas em experiências empíricas. Os pesquisadores estavam armados com um novo arsenal tecnológico, que incluía coisas como termômetros de precisão, para medir variações mínimas de temperatura, microfones de detectavam sons além do alcance do ouvido humano e até equipamentos para registrar mudanças imperceptíveis em movimentos e odores. Usavam também o que haviam aprendido a respeito de sensores não tecnológicos - animais, por exemplo.
Acredita-se há tempos que os animais são especialmente sensíveis às presenças paranormais. Em 1972 Robert Morris, da Fundação de Pesquisas de Durham, na Carolina do Norte, escreveu sobre um pesquisador não identificado que testou essa teoria em uma casa assombrada.
Tendo ouvido falar de uma casa no estado de Kentucky em que dois quartos eram supostamente assombrados, o pesquisador foi até lá com um cão, um gato, uma cascavel e um rato. Quando o cão foi levado para o quarto assombrado começou imediatamente a rosnar e saiu do quarto. Quando o gato foi levado para dentro do quarto,pulou para o ombro do dono e depois para o chão, começando a rosnar e eriçar-se, olhando para uma cadeira vazia. Quanto à cascavel, "adotou no mesmo instante uma postura de ataque em direção à mesma cadeira que fora de interesse do gato", contou Morris. Só o rato não teve reação alguma. Quando levados para outro quarto, que não tinha qualquer história de assombração, os animais comportaram-se normalmente.
Um dos pioneiros do uso de métodos eruditos nas pesquisas de campo foi Gertrude R. Schmeidler. En 1966, quando era professora de psicologia na universidade municipal de Nova York, Schmeidler começou a tratar de seu caso mais famoso, o da casa de uma amiga, que parecia estar assombrada. Tanto a mulher como seus dois filhos adolescentes relataram ter sentido a presença de um fantasma invisível, que identificaram com a imagem de um homem fraco e ansioso.
Schmeidler pediu a um arquiteto que fizesse uma planta detalhada da casa. A planta foi dividida em uma rede de trezentos setores e pediu-se aos moradores que marcassem um "X" os setores nos quais haviam sentido mais intensamente a presença inquietante. Em seguida, nove sensitivos receberam a planta da casa - sem os "X" - e solicitou-se que andassem pela casa, marcando suas impressões de onde o fantasma poderia estar. Receberam também uma lista de adjetivos, alguns coincidiam com a descrição do fantasma pela família, mas a maioria não. Depois de rodar pela casa, dois dos nove sensitivos indicaram os mesmos locais citados pela família. É interessante notar que vários também sentiram a presença no porão, que a família não havia mencionado. Quatro dos sensitivos marcaram os adjetivos fraco e ansioso para descrever o espírito - os mesmos que haviam sido usados pela família. Esses resultados, afirmou Schmeidler, mostravam "um alto grau de significado estatístico". Apesar disso, ela concluiu seu relatório com cautela: "A questão acerca do que estava causando a reação da família e dos sensitivos continua em aberto."
Em 1973, uma das alunas de pós-graduação de Schmeidler, Michaleen Maher, usou uma técnica semelhante com quatro sensitivos para investigar um apartamento de Nova York,no qual uma amiga e sua mãe haviam visto o fantasma de "uma figura encurvada, com um manto nego". Segundo Maher, dois dos sensitivos relataram impressões estatisticamente significativas. Além disso, um dos quadros em um rolo de filme infravermelho usado na pesquisa mostrou uma inexplicável "parábola de neblina"no corredor supostamente frequentado pelo fantasma. E na despensa, onde um dos sensitivos achava que o fantasma aparecia, um contador Geiger começou a estalar desenfreadamente.
Em resumo, os resultados foram estimulantes o bastante para convencer Maher a continuar com seu estudo de fantasmas, ao mesmo tempo que trabalhava como editora de pesquisa no New York Magazine. No final dos anos oitenta, ela fez experimentos com um aparelho concebido por um colega, chamado informalmente de Detector de Demônios: trata-se de uma espécie de gerador de números aleatórios, programado para encontrar luzes e sons anormais em áreas nas quais tenham sido sugeridos fenômenos incomuns. Mather e seus associados tinham esperanças de que o detector de Demônios pudesse eventualmente ser usado por entidades desencarnadas como canal de comunicação com os vivos.
A maioria dos pesquisadores acha que o futuro das pesquisas de paranormalidade está no uso de equipamentos de alta tecnologia, tais como esse. No entanto, ao esmo tempo que avaliam essa perspectiva, fica claro que seu interesse está antes de mais nada na coleta de informações sobre os fenômenos paranormais - e não na expulsão de fantasmas, tarefa arriscada que costuma ser relegada àqueles que, embora muito menos versados em eventos paranormais, estão profundamente preocupados com assuntos espirituais.
A Igreja Católica Romana, a mais amplamente reconhecida autoridade em rituais de exorcismo, distingue entre os fantasmas - espíritos dos mortos - e os demônios servidores de Satã. E embora a Igreja tenha rituais elaborados para exorcizar demônios tanto de indivíduos como de residências, dispensa aos fantasmas corriqueiros um tratamento sumário. O falecido Herbert Thurston, estudioso jesuíta de fenômenos paranormais, observou certa vez: "Parece que a Igreja Católica (...) nunca levou muito em conta as aparições espectrais - fantasmas, na verdade - que às vezes dizem perturbar a paz de alguma residência comum. "Com efeito, durante muito tempo acreditou-se que a Igreja não tinha ritual de exorcismo para a expulsão de fantasmas. Mas o padre Thurston descobriu um ritual que pelo menos parecia pertinente para esse propósito, contanto que o fantasma em questão tivesse intenções malévolas. Como contou Thurston, ele encontrou "por acaso um documento contido no Apêndice a uma edição do Rituale Romanum, publicado com plena autorização do Concílio da Inquisição, na imprensa real de Madri em 1631". A conjuração crucial rezava: "Entrai, ó Senhor, graciosamente no lar que vos pertence, construí para vôs um repouso duradouro nos corações de vossos fiéis servos e garanti que nesta casa nenhuma perversidade ou espírito maligno possa jamais dominar."
Ao apresentar sua descoberta. Thurston expressou a esperança de que "esta fórmula de comunicação possa (...) possivelmente ser de alguma utilidade para outros que se encontrem em dificuldade". Aparentemente, tal esperança era infundada, pois não há registros de o ritual ter sido jamais empregado.
despeito do distanciamento doutrinário da Igreja Católica, os clérigos continuam sendo convocados para livrar casas de fantasmas ou poltergeist. Os resultados variam. Em Ballechin House, por exemplo, o padre Hayden tentou desalojar o fantasma com água benta e orações, inutilmente. Os esforços clericais chegaram à convocação de um arcebispo para limpar a casa do espírito que a infestava, mas isso tampouco funcionou.
Por outro lado, alguns exorcismos eclesiásticos de fantasmas parecem ter tido finais mais felizes. Um dos casos mais antigos registrados nos arquivos oficiais ocorreu em 1323, quando o papa João XXII ordenou a John Godoy, prior de Alais, na Provença, que estudasse um caso de assombração Aparentemente, um homem chamado Guy de Torno morrera oito dias antes em sua casa de Alais e, após sua morte, os sobreviventes ouviram a voz dele diversas vezes. Rebocando mais de cem leigos e três irmãos beneditinos, Goby chegou à casa de Torno no dia de Natal. Embora contasse c muito mais mão-de-obra do que a disponível para os pesquisadores atuais de paranormalidade, as técnicas de Goby eram notavelmente semelhantes às que vem sendo usadas há longo tempo. Sua primeira providência foi procurar indícios de fraude de maquinação: além de colocar guardas no telhado e nas traves da casa, mandou que outros evacuassem as casas vizinhas e as revistaram de cabo a rabo.
Ao dar início a sua vigília noturna, o prior John e seus colegas monges recitaram o Ofício dos Mortos e caíram em um silêncio tenso, que foi interrompido por um barulho peculiar, como de alguém varrendo o chão. Perguntaram à presença se era Guy de Torno, ao que ela respondeu, segundo os registros da Igreja: "Sim, eu sou ele."
Durante a conversação que se segui, a voz insistiu que era "um espírito bom", embora houvesse sido condenado a uma existência fantasmagórica por causa dos pecados conjugais cometidos por De Torno em vida. Então, em uma súbita ventania, o suposto espectro partiu. Os mexericos locais afirmaram que ele voltou depois na forma de uma pomba, mas, John Goby e seu papal senhor ficaram aparentemente convencidos de que o fantasma fora posto para descansar.
Infelizmente tais certezas são raras, resultando mais de experiência pessoal e fé do que de experimentação e prova. A despeito de todos os esforços dos caçadores de fantasmas, uma solução para o antiquíssimo mistério acerca de algum tipo de essência humana que sobreviva à morte para assombrar os vivos parece estar tão remota quanto sempre esteve.