quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

ACONTECIMENTOS APAVORANTES

 


       Em uma noite da primavera de 1978, uma jovem inglesa de 17 anos juntou-se ao namorado e um grupo de amigos em uma macabra brincadeira de adolescentes: atravessaram um cemitério local passando por cima dos túmulos. Apesar de não estar muito segura de que fosse uma boa ideia., ela acompanhou o grupo,sem sequer imaginar que isso atrairia assombrações que acabariam por expulsá-la da casa, juntamente com sua família.

           Os episódios começaram discretamente, não muito tempo depois da note no cemitério. Ao acordar no meio da noite, a moça, identificada apenas como"senhorita" A" no relatório de um pesquisador da Sociedade de Pesquisas Psiquiátricas, viu algo que lhe pareceu uma senhora de idade sentada em uma cadeira, ao  pé da cama. A aparição não disse nada, nem fez qualquer gesto ameaçador. A senhorita A, que estava apenas  semi-desperta ao ter essa visão noturna, sentiu que a velha não lhe desejava mal. Caiu no sono de novo e depois decidiu que a mulher era figura de sonho.       

         Mas esse primeiro encontro inócuo com a visão fantasmagórica logo deu lugar a incidentes mais assustadores. Nas semanas seguintes, de acordo com o relato da senhorita A, a velha apareceu diversas vezes à luz do dia, seguindo a moça de um cômodo para outro. Pairando a cerca de 30 centímetros do solo, a  aparição olhava para a moça em silêncio e ficava parada sempre que ela se virava para a estranha visão. A senhorita A não conseguia ver através da figura, mas tampouco podia tocá-la - a sua mão atravessava a visão.

         A senhorita A, a mais velha de quatro filhos, nada disse aos pais ou as irmãos mais novos sobre essas experiência. Mas começou a sentir uma hostilidade cada vez maior por parte da aparição, e foi ficando ansiosa. Um dia, quando ela estava fazendo chá, sentiu de repente uma força que agarrava a chaleira e a virava, como se quisesse escaldá-la. Escapando de machucar-se naquela ocasião, a jovem logo  passou a acreditar que a velha estava exercendo sobre ela uma influência perversa. Outro dia, estava passando roupa e sentiu um impulso súbito de levantar o ferro quente e queimar com ele o irmão bebê, que dormia no berço. Felizmente, ela resistiu ao terrível impulso. 

          A ansiedade de nunca saber o que poderia acontecer em seguida ficou forte demais para aguentar sozinha, e ela confiou tudo à mãe. No início, a mãe não deu muita importância às experiências da filha; mais tarde, porém, afirmou ter visto também a aparição. Olhando para baixo pelo vão da escada, certo dia, ela avistou a velha senhora flutuar através do vestíbulo de baixo e desaparecer em um cômodo adjacente. Logo, a mãe também começou a sentir  uma presença malévola. Certa manhã, contou, ela estava limpando a casa quando o fantasma tirou o aspirador de pó das mãos dela e arrancou o tubo do aparelho. Em outras ocasião, sentiu a aparição como uma força invisível que empurrava ou puxava as portas que ela tentava abrir ou fechar, no sentido contrário aos movimentos dela.

        A frequência dos incidentes foi aumentando e logo toda a família estava enfrentando fenômenos estranhos e às vezes ameaçadores. Até mesmo o pai da moça, que antes tratava como disparates os relatos da esposa e da filha, convenceu-se de uma presença sobrenatural. Certa noite, depois que fortes ruídos de batidas acordaram toda a família, o senhor A passou duas horas procurando a fonte da perturbação, sem encontrar nada. Em outra ocasião, começou a gotejar água sem cessar do teto da cozinha: chamaram o encanador, que não conseguiu encontrar vazamentos. 

         O bebê era pequeno demais para descrever qualquer coisa que pudesse ter visto ou ouvido, mas os dois outros irmãos da senhorita A testemunharam acontecimentos  estranhos que atribuíram à assombração. Uma noite, quando estava deitado sozinho no quarto escuro, um dos meninos ouviu alguém roncando alto na cama do irmão. Quando foi investigar, a cama estava vazia e arrumada. Em outra noite, os dois meninos estavam assistindo televisão com os pais, a senhorita A e o namorado dela quando toda a família ouviu um barulho alto vindo do quarto d moça.Correram para cima e viram todos os enfeites que estavam sobre a lareira do quarto arrancados e jogados sobre a cama. Após esse incidente, o namorado da jovem saiu da casa e negou-se a entrar nela de novo. 

       Finalmente apareceu uma pista sobre a identidade da aparição. Um dia, quando a senhorita A estava sentada com o pai na sala, entrou um uma espécie de transe e começou a falar de uma vida anterior, como filha de um médico francês que vivera em Londres em meados do século XIX. Aparentemente, a senhora idos que estava assombrando a casa fora membro da família do francês. Mas a moça não explicou or que esse fantasma havia voltado para assombrá-la. Ela continuou a ser incomodada pelo espírito, e logo começou a ter outros comportamentos anormais, como entortar os dentes de um garfo com um simples toque dos dedos.  

         O senhor A ficou compreensivelmente perturbado com as experiências da filha, e temeroso por sua saúde.  Consultou um médico, que aventurou um diagnóstico preliminar de epilepsia, depois rejeitado por uma série de eletroencefalogramas. Finalmente, o departamento de assistência social da cidade conseguiu que D. F. Lawden, pesquisador do SPR e chefe do departamento de matemática da Universidade de Aston, em Birminghan, se interessasse pelo caso. Ele entrevistou a família e inspecionou a casa, mas declarou que não conseguira encontrar "qualquer explicação normal para os eventos que me foram relatados". Lawden sugeriu à família que a intensa ansiedade mental, muito provavelmente causada pelo incidente do cemitério seis  meses antes, era a causa das experiências da jovem. Aconselhou uma mudança para outra casa, o que poderia aliviar o problema, ao cortar a conexão entre a vida cotidiana da garota e a localização conhecida da assombração. 

         A família estava relutante em deixar a casa em que vivera por onze anos, e além do mais as despesas de mudança eram pesadas. Mas seis meses vivendo em constante temor tinham seu  preço. Finalmente, quando encaixotaram seus pertences para sair da casa, a aparição da velha senhora começou a desaparecer de suas vidas. 

          Movida pela curiosidade, a moça voltou uma vez para a casa assombrada. Achando a porta de trás quebrada, ela entrou, abriu a porta da frente para iluminar melhor  e depois tentou usar o telefone. De repente, segundo contou depois, teve uma horrível sensação de engasgamento e de frieza em volta da garganta, como se estivesse sendo estrangulada por uma mão gelada e invisível. Depois disso, foi atirada pela porta afora. Depois dessa experiência nunca mais ousou voltar àquele lugar. 

           As provações da família inglesa parecem ter incorporado características tanto de poltergeist quanto de assombração. O foco dos bizarros incidentes era uma adolescente, como costuma ser  o caso na maioria de poltergeist, e a ação estava concentrada em um lugar, o que em geral acontece c as assombrações. No entanto, neste ponto terminam as semelhanças entre este caso e o que é considerado típico das assombrações e das manifestações de poltergeist. Na maior parte dos casos, embora seja assustadora, a assombração é uma presença benigna, que não deseja mal às pessoas que encontra. Do mesmo modo, um poltergeist pode causar uma grande perturbação, mas em geral faz isso de maneira brincalhona ou provocadora, sem sinais de maldade ou hostilidade. 

         No entanto, há exceções a essas regras gerais. Uma pequena porcentagem dos relatos de poltergeist ou de assombração fala de presenças malévolas e até mesmo selvagens, que expulsam as pessoas de casa, como no caso da desafortunada família da senhorita A. Alguns relatos chegam a acusar poltergeists e assombrações de causarem ferimentos ou mortes. 

         Desde a fundação da SPR em 1882  e de sua equivalente americana, ASPR, em 1885, dezenas de suspeitas de ocorrências de assombrações ou de poltergeists desse tipo foram investigados de cabo a rabo. Às vezes, os pesquisadores desconfiam que a fraude, e não um mal sobrenatural, estava na raiz de alguma assombração particularmente pavorosa. Um desses logros, que teve lugar em Amityville, no estado de Nova York, em 1975, teve ampla repercussão e foi tema de vários livros e filmes. Muitas vezes, porém como em um notável caso relatado por uma viúva inglesa em 1943, esses encontros aterrorizantes com poderes estranhos e destrutivos ficam sem explicação mesmo depois das cuidadoras e céticas  investigações. 

         "Há algum mal aqui que se manifesta em doenças; nossos visitantes, novas criadas, todos parecem ficar doentes e meu marido morreu em junho último, (...) Outras manifestações (...) ruídos de batidas, barulhos alarmantes (...) cheiros desagradáveis e inexplicáveis. Minha irmã por duas vezes acordou abruptamente com uma sensação de mãos em volta do pescoço tentando estrangulá-la, sentindo uma presença má." Isto dizia a carta enviada à SPR pela aflita viúva, identificada apenas como senhora Knight. Ela estava descrevendo a vida em sua casa na aldeia de Wareham, a cerca de 95 quilômetros a sudoeste de Londres. O senhor e a senhora Knight, juntamente com uma irmã desta, tinham mudado para a aldeia três anos antes. A morte do senhor Knight foi apenas um dos estranhos e muitas vezes tráicos acontecimentos que a senhora Knight atribuiu a um mal invisível na casa deles.  

          Tanto medo  e pesar fora provocado por uma casa que foi descrita por G.N.M. Tyrrel, respeitado pesquisador da SPR e autor do livro Aparições, publicado em 1953, como "particularmente leve e alegre (...) a última casa que se desconfiaria estar assombrada". Construída por volta de 1820, tratava-se de um sobrado de tijolos com dois andares e telhado, localizada em uma agradável estrada campestre. Uma forte grade de ferro apoiada em pilares de tijolo separava o jardim da calçada. Mas, segundo a senhora Knight, essa aparência encantadora era enganadora. 

            Entre os incidentes relatados a Tyrrel houve duas ocasiões em que a senhorita Irwin, irmã da senhora Knight, afirmou ter sido acordada pela sensação de estar sendo estrangulada por mãos invisíveis. Também contou ter sentido uma presença má no quarto. Na segunda vez em que isso aconteceu, a sensação de estrangulamento e da presença malévola foi acompanhada pela percepção de algo invisível puxando as roupas de cama. A  jovem tinha certeza de que os incidentes não eram sonhos. É muito comum que as pessoas afetadas imaginem tratar-se de um simples sonho. 

          Em outras ocasiões, odores nauseabundos invadiram varias partes da casa. Inclusive a despensa, o vestíbulo e o banheiro. Neste último, com efeito, a senhora Knight sentiu certa manhã um cheiro de carne podre. O fedor ficou no ar por mais de cinco minutos, contou ela, enchendo sua mente com pensamentos de "morte e túmulo". Ela contou também que uma lâmpada do banheiro acendeu sem que houvesse alguém perto do interruptor e que um raio portátil fez de repente um barulho de  estouro, "como um tiro de pistola", e emitiu uma quantidade de fumaça, enquanto continuava funcionando normalmente. Não foi preciso consertá-lo. 

          Em 1943, as assombrações  desenvolveram uma atividade particularmente intensa e variada na casa. Em janeiro desse ano, ruídos inexplicáveis foram ouvidos em diferentes c^modos, por três dias consecutivos. Os primeiros barulhos começaram certa tarde, quando a senhora Knight estava de cama, por causa de um resfriado. Ela ouviu cinco batidas fortes, como se alguém estivesse golpeando a porta ou a cabeceira da cama. As pancadas soaram com intensidade bastante para que seu marido as ouvisse do andar de baixo, mas a irmã dela, que estava na cozinha nesse momento, nada ouviu. Na noite seguinte, ela e a irmã ouviram um forte baque em um dos quartos do andar superior, como se alguém houvesse  caído da cama, ou como se alguns livros houvessem despencado de uma mesa para o chão. Procuraram, mas não encontraram uma causa física para o barulho. No dia seguinte, na cozinha, ela ouviu algo que lhe pareceu o ruído de uma pesada cesta de roupa suja sendo largada do lado de fora da porta traseira. Abriu a porta e nada encontrou. 

          Três meses depois, a senhora Knight despertou no meio da noite e ouviu um barulho forte bem embaixo de sua cama. Parecia, disse ela, um "animal roendo um osso grande em cima das tábuas descobertas". Acendeu as luzes e olhou embaixo da cama. Embora nada visse, o fenômeno continuou. Foi buscar a irmã e as duas ficaram escutando, enquanto o barulho mudava de lugar, até parar. Em duas ocasiões o casal ouviu ruídos misteriosos na sala de visitas, como se alguém estivesse chicoteando, de fora, a janela da frente da casa. 

          A casa não estava apenas barulhenta; parecia estar insalubre. A senhora relatou que treze visitantes e serviçais ficaram doentes de forma estranha, durante os três anos em que ela viveu lá. E quando o marido dela morreu uma semana após a operação em julho de 1943, ela atribuiu a morte dele à ação da presença malévola.  Um mês depois sua irmão, a senhora Fox, foi visitá-la e caiu doente na manhã seguinte à chegada, acometida de dores. Os médicos registraram uma inchação abdominal e uma inflamação na boca e na garganta, mas a causa da doença nunca foi definida. 

          Também ocorreram acidentes misteriosos. No mesmo dia em que Tyrrell, da SPR chegou para investigar a assombração, a senhorita Irwin caiu no vestíbulo e quebrou o pulso. Disse que havia escorregado ao dirigir-se para a porta, mas Tyrrel observou que menos de meio metro do assoalho estavam sem carpete e as tábuas não pareciam nem um pouco escorregadias.  

          A senhora Knight e a irmã continuaram a relatar presenças estranhas e acontecimentos inexplicáveis.  Em uma ocasião, a dona da casa observou um pequeno oval de luz - aparentemente sem conexão com qualquer fonte de luz - movendo-se pela parede. Certa noite, por volta de meia-noite , ela e a irmã viram um leque de luz branca perto da porta de um dos quartos,  depois um pilar dourado ao lado da porta de um armário. A metade inferior do pilar estava dividida por uma linha de cor cinza-azulada vertical, como se a luz estivesse se transformando  em uma figura de duas pernas. Enquanto as mulheres estavam olhando para aquela brilhante aparição, ela subitamente sumiu. 

          Um mês depois, as irmãs saíram de  durante o dia e quando voltaram, pouco tempo depois, viram que alguma força desconhecida deslocara um dos pilares de tijolo que sustentavam a grade de ferro diante do jardim. Vários tijolos estavam desalinhados no lado do pilar que ficava de frente para a casa, e havia pedaços de cimento espalhados pelo gramado. Um amigo que consertou o pilar sugeriu que um carro ou caminhão devia ter colidido com ele, para causar  tal dano. Contudo, uma cuidadosa inspeção de Tyrrel revelou que nenhum dos tijolos do lado da da rua fora tocado e que a tinta, tanto na grade como no pilar, não tinha marcas de batida. 

         Ao mudar-se para aquela casa, a senhora Knight desconhecia sua história anterior. com o tempo, porém, ao comentar com os vizinhos os estranhos acontecimentos, ficou sabendo que diversos residentes haviam tido problemas semelhantes. Uma mulher  que morara ali antes havia saído após a morte súbita do marido e  de um acidente de bicicleta no qual ela própria ficara ferida. Os boatos locais falavam de uma criança que havia morrido na casa sem sintomas de qualquer doença conhecida e de alguém que fugira para uma cidade vizinha e morrera afogado. 

         O pesquisador Tyrrell julgou que a senhora Knight era uma "testemunha boa e precisa", pois nada sabia acerca de pesquisas de paranormalidade, nem da história da casa. Presumia-se, portanto, que não tinha qualquer predisposição nem razão para esperar que acontecessem coisas ameaçadoras. Tyrrell concluiu que algumas das doenças, acidentes e mortes podiam ser atribuídos ao acaso. Mas os ruídos, odores e visões que a senhora Knight e sua irmã captaram eram"de caráter supra-normal, não físico ou alucinatório", e formavam o que Tyrrell considerou como uma boa prova de percepção coletiva, , fenômeno no qual duas ou mais pessoas compartilham da mesma percepção, real ou alucinatória. As duas mulheres, por sua vez, preferiram sair de casa e começar vida nova longe dos misteriosos horrores. 

           Sentimentos difusos de mal e o temor a presenças invisíveis podem parecer ainda mais  quando as vítimas são crianças, e não adultos. Uma dessas experiências lançou uma sombra de medo e melancolia sobra a vida de uma jovem galesa chamada Rachel Briggs, pseudônimo inventado por Andrew MacKenzie, o respeitado escritor dedicado ao ocultismo, para quem ela descreveu a sua infância assombrada. Rachel e sua família tinham mudado, no final dos anos quarenta, de sua casa em Gales para um apartamento na cidade inglesa de Cheltenham. Em algum momento por volta de 1950, quando a menina tinha 5 ou 6 anos, teve seu primeiro encontro com a presença malévola que viria a roubar a felicidade de sua juventude. Certa manhã ela estava brincando com seu cão no quarto quando "a atmosfera de repente ficou 'elétrica' e eu me afastei aterrorizada da janela, para olhar para  interior do quarto. Embora não tivesse nada, era como se algo estivesse olhando intensamente  para mim, e com desagrado. O cão saiu correndo do quarto e eu fui atrás. Corri até a cozinha, onde minha mãe estava cozinhando. Ela perguntou-me o que havia de errado, mas eu não tinha ideia do que acontecera, e com certeza não sabia explicar". 

             Essa apavorante sensação de estar sendo olhada por alguma entidade invisível e ameaçadora aconteceu de novo e de novo, Rachel começou a ter medo de ficar no apartamento. Fazia hora para voltar da escola e passava o máximo de tempo possível brincando no pátio do prédio, onde se sentia segura. Sempre que seus pais a deixavam sozinha em casa ela corria para fora, para escapar à presença que, ela tinha certeza, queria "pegá-la". A hora de ir apara cama  tornou-se uma tortura. "Nunca me esqueci da força e da intensidade  daquela presença", escreveu ela mais tarde sobre uma noite em que seus pais a deixaram sozinha para visitar uns amigos. "Era como se alguém estivesse tentando penetrar na gente, com um olhar de ódio."

            Outros membros da família também sentiam uma presença sinistra no apartamento. Uma tia em visita à família sentiu temores noturnos tão intensos que comentou com a mãe de  Rachel a presença de "algo errado" com a casa; encerrou sua visita na manhã seguinte, recusando-se para sempre a voltar a pôr os pés no apartamento de Cheltenham. Quando a avó materna de Rachel, uma autoproclamada médium com supostos conhecimentos amplos do mundo dos espíritos, chegou de visita, sentiu também a presença que estivera aterrorizando a neta. A própria senhora Briggs sentiu sete vezes o espírito velado e ameaçador. E certa noite o senhor Briggs percebeu o que descreveu como uma presença alarmante à espreita atrás dele, quando estava sentado lendo perto da lareira. Rachel somente veio a comentar suas experiências infantis com os pais trinta anos depois, quando ficou sabendo que eles haviam tido a mesma sensação de um fantasma apavorante rondando o apartamento. A senhora Briggs, que sentira a própria infância prejudicada pelo interesse de sua mãe pelo ocultismo, relutava em discutir o assunto. Mas revelou que, na juventude, havia manifestado sinais de capacidade mediúnica e tomara a decisão deliberada de não se envolver com o mundo dos espíritos. 

            Quando a família saiu de Cheltenham para ir morar em Malta, no final dos anos cinquenta, a mãe de Rachel contou ter visto a figura fantasmagórica de um maltês que parecia estar procurando desesperadamente por alguma coisa. A senhora Briggs não demorou a descobrir que o prédio do apartamento onde moravam fora erguido sobre o local onde várias casas haviam sido destruídas por um bombardeio durante a guerra.  

             Esse tipo de conexão com um incidente anterior de morte e destruição não foi encontrado em Cheltenham. Quando o pesquisador Michel Matyn, da SPR, entrevistou uma inquilina subsequente de Cheltenham, descobriu que ela não havia sentido coisa alguma fora do comum. Andrew MacKenzie, que se correspondeu com Rachel, já adulta, até 1983, especulou que a suposta sensibilidade psíquica da senhora Briggs pode ter desencadeado as aterradoras experiências de Cheltenham.  

           O fato de Rachel Briggs nunca ter visto o espírito que a atormentava não fez com que seus encontros fossem menos apavorantes  do que aqueles nos quais o espírito se materializa ou dá outros indícios de sua presença. Os relatos dessas temíveis experiências de atividades de espíritos aparecem através dos séculos. Um exemplo de peso, testemunhado por diveros observadores reconhecidamente objetivos, ocorreu na Escócia em 1695, em Ringcroft, residência rural de um respeitado maçom. Andrew Mackie. Descrito pelos amigos como "honesto, civil e inofensivo, muito mais do que  maioria dos vizinhos", Mackie vivia com a esposa e os filhos em uma pequena casa de campo que por anos fora considerada assombrada. Os Mackie, nada viram fora  do comum nela até fevereiro de 1695, quando, segundo a história, caíram nas garras de um fantasma impetuoso. 

         O que quer que fosse, atingiu-os com estonteante intensidade. Segundo consta, pedras e outros objetivos voavam pelos ares como se fossem atirados por mãos espirituais, mas às vezes acertando e ferindo os observadores. O ministro da paróquia, Alexandre Telfair, foi chamado para testemunhar os distúrbios. Atestou depois que o espírito "molestou-me fortemente, atirou pedra e diversas outras coisas contra mim e golpeou-me várias vezes nos ombros e nas costas com um grande bastão de madeira, que todos os presentes ouviram o barulho dos Golpes". O fantasma não poupou ninguém, desatando sua violência de dia e de noite. Segundo Telfair, ele espancou as crianças dos Mackie certa noite  em suas camas, e em outras vezes "ele arrastava as Pessoas por suas Casas pelas Roupas".  Chegou até a assertar o moleiro local um golpe de incapacitante, atirou um cocho e um arado contra o ferreiro. 

 

 

 

        Então, tão subitamente quanto chegara, o espírito ficou quieto. Mas poucos dias depois, como uma tempestade que estivesse juntando forças, a fúria desatou-se de novo. Certa ocasião, conta-se que toda a casa pôs-se a sacudir como em um terremoto. Outros fenômenos também eram violentos: edículas irrompiam em chamas e queimavam completamente; durante as devoções da família, grumos de piche em chamas eram atirados contra os devotos, e às vezes uma forma humana feita de panos aparecia, assombrando e gemendo, ou exclamando, "psiu, psiu". 

        Convencido de que o fantasma era uma presença demoníaca, Mackie conseguiu que cinco ministros exorcizassem a casa no dia 9 de abril. Os procedimentos, contudo, foram interrompidos por uma chuva de pedras. Alguns dos participantes, entre eles Telfair, afirmaram ter levitado, puxados por ago que os agarrou pelas pernas ou pelos pés; s cinco clérigos confirmaram essa história. No início o espírito não demonstrou ter ficado impressionado com os esforços ministeriais, mas na sexta-feira 26 de abril, uma voz sem corpo anunciou: "Sereis incomodados até terça." No dia marcado, uma tenebrosa nuvem negra formou-se em um canto do celeiro, diante dos olhos de vários vizinhos dos Mackie. A nuvem foi ficando cada vez maior até que, segundo foi dito, preenchia quase toda a estrutura. A massa informe atirou lama no rosto dos observadores e, segundo Telfair, apertou alguns deles com tanta força que "por cinco dias eles pensaram sentir ainda aqueles apertões". Então, fiel a sua palavra, o espírito desapareceu. 

        Em 1696  Alexandre Telfair escreveu um relato da assombração, atestado por nada menos que quatorze testemunhas, inclusive cinco ministros e dois respeitados proprietários de terras da região. Na época não existiam recursos para uma investigação independente. Mas os modernos pesquisadores da paranormalidade descartam a possibilidade de que um número tão grande de testemunhas possa ter se enganado em suas observações,ou conspirado para perpetuar um logro tão elaborado. 

          Atribuir os desastres como os que caíram sobre os Mackie à obra de demônios não é incomum na história dos acontecimentos sobrenaturais, e os exorcismos ou o porte de medalhas religiosas são há muito armas favoritas na luta contra o mal. Esses dois formidáveis canhões foram apontados contra o ameaçador espírito que dizem perambular pelos domínios de uma propriedade medieval francesa em Calvados, em 1875 e 1876, conhecida na literatura paranormal como Castelo de Calvados. Em 1867, essa propriedade foi herdada por uma família e em outubro do mesmo anos o herdeiro, identificado como M.de X., observou diversos incidentes estranhos; mas a comoção rapidamente e tudo ficou em paz por oito anos. Então, em novembro de 1875, a violência macabra começou. 

         Por um período de três meses, M. de X. manteve um diário co detalhes das provocações de sua família. Registrou episódios  de ruídos fortes, como se alguém estivesse batendo contra as paredes e portas, arrastando pesadas cargas pelo assoalho e pelas escadas abaixo e malhando o castelo com um ariete. Livros foram arrancados das prateleiras e espalhados pelo chão, móveis foram deslocados, portas e janelas abriram-se sem que ninguém as tocasse. Testemunhas descreveram choros queixosos e gritos agudos de fonte desconhecida, além de passos de uma entidade invisível que percorria a casa e corria para cima e para baixo pelas escadas, como se suas pernas estivessem "privadas de pés e caminhando sobre cotos". Um padre em visita ao castelo disse ter visto um armário de cozinha elevar-se e pairar no ar. Nesses três meses, nem uma noite foi passada em paz. Membros aterrorizados da família começaram a trancar as portas de seus quartos e a deixar velas acesas durante toda a noite, mas isso serviu de nada. Relataram que as luzes apagavam-se misteriosamente e portas  trancadas eram escancaradas por uma presença invisível. As Bíblias da casa foram profanadas e, em uma ocasião, contou-se que uma chave saiu da fechadura e atingiu seu próprio dono. 

         A família tentou atrapalhar a presença assombradora  colocando cruzes e medalhas religiosas em todas as portas, mas, segundo o diário, esses objetos sagrados sumiram na note seguinte e  um forte ruído reverberou por toda a casa. O padre da paróquia realizou um exorcismo que pareceu tranquilizar as coisas por uns tempos. O diário registra que, poucos dias depois,quando a dona da casa estava escrevendo cartas, muitos dos objetos religiosos desaparecidos materializaram-se de repente e despencaram sobre a mesa, na frente dela. Com isso, a violência começou de novo. Perdendo finalmente as esperanças de viver em paz na casa, a família vendeu a propriedade.

            Os relatos sobre o caso do Castelo de Calvados foram publicados pela primeira vez no Annales des Siences Psychiques, em 1893. O editor da revista, em certo doutor Dariex, havia examinado o diário de M. de X., no qual o atormentado homem narrava suas tentativas de descobrir a presença ameaçadora - estendendo barbantes através das portas da casa para ver se permaneciam intactos durante os fenômenos e procurando pegadas na neve em torno do castelo, nos meses de inverno. E muitas testemunhas da assombração escreveram cartas atestando diversos incidentes e confirmando os relatos do diário de M. de X. Após avaliar os indícios, o doutor Dariex concluiu: "A honestidade e a inteligência do dono desse castelo não podem ser questionadas por ninguém."

             A maldade e a destrutividade demonstradas nas assombrações de Ringcroft e de Calvados não se restringiram a um lado do Atlântico. Um dos poltergeist mais selvagens e impiedosos da história trouxe a devastação a uma próspera plantação de algodão do Tennessee, atormentando os donos, John e Luce Bell, e seus nove filhos, durante quatro anos. A Assombração da família Bell, que começou em 1817, provocou grande interesse público, e multidões de curiosos acorreram à fazenda para conhecer os fenômenos sobrenaturais. Entre essas testemunhas estava um amigo da família Bell, o ilustre herói militar Andrew Jacksn, que viria a ser o sétimo presidente dos Estados Unidos. 

            Segundo Richard Bell, que anos depois escreveu um livro sobre assombração, a Bruxa de Bell (tal como foi chamada a força que estava por trás das perturbações fantasmagóricas) começou a manifesta-se mediante ruídos de batidas e raspões nas portas e janelas da casa da família. Pouco tempo depois, o barulho começou a ser ouvido dentro da casa, aumentando em volume e variedade. Embora a assombração parecesse estar centrada na jovem Elizabeth Bell, que tinha 12 anos quando os distúrbios começaram, todos os membros da família relataram acontecimentos estranhos. Afirmaram ouvir criaturas fantasmáticas arranhando o assoalho, roendo os móveis e batendo asas contra o teto. Conforme o relato de Richard Bell, sua paz fora rompida por ruídos de uma furiosa biga de cães, ou por um estrondo no telhado que lembrava uma chuva de granizo: o sono era perturbado pelo clamor de móveis sendo deslocados e pelo retinir de correntes e outros objetos pesados arrastados pelo assoalho. Alguns dos ruídos misteriosos, como de engasgamento, estalar de lábios e deglutição, pareciam horrivelmente humanos. Em um ano os ruídos alcançaram um tal nível de violência que a casa praticamente tremia em suas fundações, como se estivesse sob um ataque de artilharia. 

           Fenômenos de poltergeist  mais sinistros seguiram-se aos ruídos A família relatou dolorosos ataques pessoais. Richard, então com 10 anos, contou como foi acordado violentamente certa noite por um puxão nos cabelos, sentindo como se o topo da cabeça estivesse sendo arrancado por um atacante invisível. Seus berros de dor acordaram seu irmão Joel, e logo seus gritos de medo e susto foram acompanhados pelos de Elizabeth, no quarto ao lado. Daquela noite em diante, Elizabeth sentiu a Bruxa de Bell puxando-lhe os cabelos todas as vezes que ia para a cama.

          Enquanto a assombração se limitava a ruídos perturbadores a família Bell manteve a coisa em segredo, mas quando começaram os ataque contra as crianças eles confiaram sua história a James Johnson, um vizinho, amigo íntimo e companheiro de devoção cristã. Johnson tentou exorcizar a Bruxa de Bell falando com ela em linguagem bíblica, ordenando-lhe que partisse em nome de Jesus Cristo. Esse remédio pareceu dar um fim à assombração - mas só temporariamente. Grande parte da violenta atividade do poltergeist concentrava-se em Elizabeth, e seu fantasmagórico torturador logo recomeçou suas brincadeiras cruéis, puxando-a pelos cabelos até que ela gritasse e esbofeteando-lhe o rosto com força bastante para deixar marcas vermelhas em suas bochechas. 

          Para aliviar a menina, John Bell e James Johnson pediram ajuda a outros vizinhos. Mandaram Elizabeth  para a casa de amigos da família, mas a Bruxa deBell, com seus ataques e perturbações, parece ter ido atrás dela. 

           Aparentemente, não havia segurança para ninguém que estivesse por perto. O vizinho William Porter, que passou uma noite na casa dos Bell, relatou uma presença física em sua cama, puxando os lençóis. Ele pulou e descobriu que o cobertor estava enrolado em uma trouxa, ao lado da cama.  Convencido de que essa era sua oportunidade de capturar e destruir a "bruxa", ele agarrou o cobertor enrolado e atravessou o quarto para atirar a trouxa no fogo da lareira, mas não conseguiu chegar até lá. O capote em seus braços ficou imensamente pesado, além disso, exalou um cheiro que Porter descreveu depois como "o mais ofensivo fedor que jamais senti". Vencido pelo cheiro, ele deixou cair o cobertor e correu em busca de ar fresco. Quando voltou e sacudiu o cobertor, ele estava vazio - sem cheiro. 

           Johson e outros vizinhos logo tentaram falar com a Bruxa de Bell. Conta-se que a entidade respondeu às questões deles com um leve assobio que foi gradualmente progredindo para uma fraca voz murmurante, quase impossível de ser entendida. Finalmente, recordou Richard Bell, o murmúrio ficou mais claro, de modo que foi possível entendê-lo. "As palavras eram ouvidas em quartos claros ou na escuridão", escreveu Bell, "e finalmente de dia, a qualquer hora." Algumas testemunhas desconfiaram que Elizabeth pudesse ser ventríloqua, mas um médico que visitou a casa certa ocasião tampou a boca  d menina com a mão e declarou-se convencido de sua inocência. 

            De acordo com testemunhas, a voz da bruxa foi ficando mais forte, e novas vozes apareceram, algumas masculinas,outras femininas, todas grosseiras e abusivas. Proferiram ameaças macabras e mexericos locais comprometedores, inclusive acusações de alcoolismo e maus tratos a crianças, entre outros vícios. A voz da bruxa parecia deleitar-se especialmente na tentativa de romper um romance entre a agora adolescente Elizabeth e seu marido prometido, um jovem chamado Joshua Gardner.  Em um sussuro suave e gentil, conta-se que ela instava: "Por favor, Betsy Bell, não fique com Joshua Gardner. Por favor Betsy Bell, não se case com Joshua Gardner." Com uma disposição mais ameaçadora, ela avisou a um dos irmãos de Elizabeth que sua irmã não teria paz ou felicidade se levasse adiante o plano de casamento. E quando Elizabeth e Joshua estavam juntos na companhia de outros, ela fazia observações tão embaraçosas sobre os dois que a moça tinha ataques histéricos. Incapaz de suportar as provocações da bruxa. Elizabeth rompeu o noivado. Depois disso, ela começou a ter reações físicas, caindo em desmaios semelhantes aos observados  nos médiuns em transe. Respirando ofegante, ela mergulhava em uma esgotada inconsciência por tinta ou quarenta minutos de cada vez. Durante esses episódios exaustivos, o pai dela queixava-se de rigidez e de outras sensações estranhas na boca; uma vez, sua língua inchou o bastante para impedi-lo de comer ou falar por horas.  Também começou a ter espasmos violentos e incontroláveis  dos músculos faciais, uma aflição tão grave e duradoura que o obrigou a ficar de cama. O tempo todo, ouvia-se a voz da Bruxa de Bel xingando o "Velho Jack Bell", que era como ela o chamava, nos termos mas extremos e ofensivos, ameaçando segui-lo até sua tumba. 

            As tentativas de cura produziam resultados grotescos. Um charlatão deu a Elizabeth uma poção purgativa particularmente ruim, que provocou o que um amigo da família descreveu como "uma copiosa evacuação do estômago". Um exame de vômito revelou que estava cheio de afiados alfinetes e agulhas. Em outras ocasiões, membros da família encontravam alfinetes com a ponta para fora nos estofados e travesseiros da casa. 

           John Bell estava ainda pior que a filha. Sempre confinado em seu leito, certa manhã ele deixou de acordar.  Não conseguindo despertá-lo , John Bell, Jr. examinou o armário de remédios do pai e encontrou um frasco com um líquido escuro no lugar do medicamento receitado pelo médico da família. Segundo Richard  Bell, a voz da bruxa gritou em triunfo, afirmando ter envenenado John com uma dose do estranho liquido do frasco. O médico foi chamado e testou o conteúdo do frasco dando algumas gotas ao gato da família, que caiu morto na hora. Depois disso, o médico jogou os restos d mistura desconhecida no fogo. John Bell foi declarado morto na manhã seguinte. Diz-se que a bruxa, que aparentemente não desejava deixá-lo descansar em paz, perturbou o funeral de Bell cantando canções grosseiras. 

             Com a morte de John Bell, a assombração parece ter chegado ao final. Pouco foi visto ou ouvido da bruxa por vários meses, quando, segundo se conta, um objeto parecido com uma bala de canhão caiu pela chaminé da lareira e explodiu em uma nuvem de fumaça. Consta que foi ouvida uma voz que dizia:  "Estou partindo e estarei longe por sete anos ." Fiel a essa profecia, a assombração cessou, e umas poucas manifestações voltaram sete anos depois. Nessa altura Elizabeth tinha se casado e estava morando longe dali e os únicos ocupantes da casa eram a viúva Luce e dois filhos. Desta vez, porém, os eventos foram leves - alguns ruídos de raspagem e puxões na roupa de cama - e durante apenas duas semanas. Antes de desaparecer, no final desse período, a bruxa prometeu voltarem 107 anos. A data marcada para seu retorno chegou em 1935, mas felizmente nada aconteceu. 

           Em seu diário sobre o caso, chamado Os apuros de Nossa  Família, de 1846, Richard Bel concluiu que desde o início a bruxa parecia ter dois propósitos. "Um era a perseguição de Papai até o fim da vida. O outro era o vil propósito de destruir  a felicidade antecipada que estremecia o coração de Betsy." Examinando o caso muitos anos depois, o célebre psicanalista e pesquisador da paranormalidade húngaro Nandor Fodor concluiu que a bruxa não era um fantasma ou espírito  de um morto que voltara para assombrar os Bell. Sugeriu em vez disso que "a Bruxa veio à vida manifesta através de Betsy Bell". Isto é, segundo Fodor, era uma divisão de personalidade da própria Betsy, formada no início da puberdade, que se desenvolvera como entidade independente.

       


 

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